Radiografia das uvas tintas mais plantadas na Argentina

As uvas tintas mais plantadas da Argentina

A Argentina é um país de vinhos tintos: as uvas com maior superfície cultivada são tintas, com pouco mais de 54,3% do total dos vinhedos; os vinhos mais famosos são elaborados com uvas tintas e, além disso, a variedade mais cultivada entre todas é a tinta, com a Malbec na dianteira. 

Mas além do universo da famosa Malbec, quais são as outras variedades e onde se cultivam? Quais são as uvas tintas mais plantadas da Argentina?

Com o objetivo de fazer uma radiografia dos vinhedos argentinos – a partir da informação numérica provista pelo Instituto Nacional de Vitivinicultura–, descubra a seguir o que você precisa saber sobre as uvas tintas em solo argentino.

As uvas tintas mais plantadas da Argentina, uma por uma

MALBEC 45.657 ha; 39,2% do total de tintas

De longe, a Malbec é uma das uvas tintas mais plantadas da Argentina, apesar de a sua ascensão ter começado a partir da década de 1990, quando ocupava ¼ da superfície atual. Encontra-se em todo o território, de Jujuy à Patagônia profunda, mas o seu  epicentro fica em Mendoza, que concentra 85% da superfície.

Curiosidade: 15,7 mil hectares de vinhedos foram plantados no Valle de Uco e, a rigor, não alcançam os 40 anos no registro cadastral; são as novas zonas de moderadas a frias, que reinventaram o sabor desta variedade nas últimas décadas, oferecendo 1/3 do volume produzido.

As uvas tintas mais plantadas da Argentina
Bonarda

BONARDA 18.153 ha; 15,59% do total de tintas

Conhecida no mundo como Charbono ou Corbeau Noir, no país foi confundida ampelograficamente até 2009, quando se conseguiu identificá-la com precisão através de análises de DNA.

Oriunda da região francesa conhecida como Savoia, na Argentina está plantada em zonas quentes e produtivas, onde dá vinhos frutados, simples e de corpo médio. 83,5% está cultivada em Mendoza, enquanto San Juan acumula 12,3%.

O dado é que só 1680 hectares (9%) crescem em zonas de temperaturas moderadas a frias, o que representa uma média de 1 de cada 10 garrafas com estilos mais frescos.

CABERNET SAUVIGNON 14.129 ha; 12,13% do total de tintas

A terceira das uvas tintas mais plantadas da Argentina é a mais difundida no mundo. Oriunda da região francesa de Bordeaux, no país se concentra em Mendoza, com 76% da superfície, seguida de San Juan com 9,9%, La Rioja com 5,4%, Salta com 3,25%, Catamarca com 2,2% e a Patagônia, com 2,6%, sendo 1,9% em Neuquén. 

A amplitude de lugares, seguida do fato de que quase a totalidade da Cabernet está plantada em zonas de clima moderado a quente, que combinam bem com o seu ciclo longo, delimitam certa abertura gustativa para a variedade. 

Os mais distintivos são os do norte, em que ao sabor de pimentão assado se soma um especiado intenso difícil de encontrar em qualquer outro canto do globo.

SYRAH (SHIRAZ-SIRAH) 11.797 ha; 10,13% do total de tintas

As pesquisas de DNA a definem com precisão como uma variedade francesa, cujo nome remete a uma antiga cidade persa. 

Oriunda de Ródano, a Syrah –e suas variantes australianas como Shiraz– devido à sua adaptação biológica ao calor, está plantada majoritariamente em zonas quentes: os departamentos de San Martín, Lavalle, San Rafael e Rivadavia, em Mendoza, junto com 25 de Mayo, Sarmiento e Caucete, em San Juan, acumulam quase 60% de sua superfície. 

Isso determina que a maioria dos Syrah do país oferecem fruta negra, sejam encorpados e com baixo teor de acidez. No entanto, uma minoria (8%), numa proporção de uma a cada dez garrafas, provém de regiões mais frescas, que as transforma em uma raridade com outra paleta gustativa, mais fresca.

TEMPRANILLO 5.430 ha; 4,66% do total de tintas

A uva que deu fama mundial a Rioja, na Espanha, ocupa o 5º lugar de as uvas tintas mais plantadas da Argentina.

Ao contrário do que acontece com outras variedades, 95,3% se localiza em Mendoza, onde 2/3 correspondem a zonas quentes em que a variedade se adapta bem.

A exceção é o ⅓ restante, que se concentra no Valle de Uco, em especial em San Carlos (660 ha). Aí ganham a tanicidade e a estrutura dos vinhos de longa vida, aos quais a maturação em barricas produz um efeito acetinado. 

O dado é que 2 mil hectares possuem vinhas de mais de 40 anos, enquanto outras 2,6 mil têm entre 10 e 40 anos, o que permite trabalhar com vinhas velhas em quase todos os casos. No entanto, não é uma variedade muito fácil de encontrar nas gôndolas.

As uvas tintas mais plantadas da Argentina
Vineyards at Las Compuertas, Luján de Cuyo, Mendoza.

MERLOT 5.062 ha; 4,36% do total de tintas

A rainha de Pomerol e de Saint-Émilion encontra na Argentina um solo estranho, mas afável. Longe das argilas de Bordeaux, a Merlot está plantada em quase toda a Argentina, em lugares tão diferentes como extremos entre si. 

Um terço da superfície está em zonas moderadas a frias de Mendoza, enquanto outro terço se localiza em zonas quentes da mesma província. 

A parte restante se divide entre todos os terroirs da Argentina, com particular interesse na Patagônia, onde os solos argilosos dos vales dos rios Neuquén e Negro fornecem condições ótimas para os seus 411 hectares plantados na região, com vinhas de mais de 20 anos.

ASPIRANT BOUSCHET 4.700 ha; 4,04% do total de tintas

Conhecida como uva tintorera pela sua capacidade de fornecer cor, a Aspirant Bouschet (um cruzamento entre a Gros Bouschet e a Aspirant Noir obtido por Henri Bouschet em 1865) é uma variedade francesa que no país é cultivada quase totalmente nas zonas quentes de Cuyo. 

É precisamente nesses climas, onde outras variedades perdem sua cor, que a tintorera ganha valor e utilidade. De aromas frutados e certa rusticidade, se emprega em cortes, apesar de que possam existir alguns raros exemplares engarrafados provenientes do leste mendocino.

ANCELLOTTA 2.222 HS, 1,91% do total de tintas

De estirpe italiana, a Ancellotta é uma variedade tinta muito utilizada na região de Emilia Romagna para os Lambruscos que desembarcou em solo argentino a partir do ano 2000. 

No princípio foi cultivada com propósito tintorero, principalmente em Mendoza, onde se concentram 1914 hectares, mas hoje também é utilizada para a elaboração de varietais muito exóticos. Em San Juan e Salta já oferece resultados interessantes.

PINOT NEGRO 1,993 ha; 1,71% do total de tintas

Insígnia da Borgonha no mundo, a Pinot Noir está cultivada em regiões frias devido ao seu curto período de maduração, somado ao fato de que é nestes climas onde conserva a frescura que a torna vibrante. 

No país não é exceção. Mendoza cobre 73,6% da superfície, com Valle de Uco contabilizando 1060 hectares, ou seja, apenas acima da metade da Argentina. 

O dado é que Tupungato, o departamento mais elevado e frio de Uco, cobre 1/3 da superfície total do país, enquanto toda a Patagônia alcança quase 1/5 (358 ha). 

A décima tinta em extensão de território na Argentina é a Sangiovese (1.390 ha) que, quase sem exceção, está arraigada em Mendoza, com a curiosidade, não menor, de que 1214 hectares têm mais de 40 anos e, salvo por 10 hectares, ninguém voltou a plantá-la na última década.

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