Há anos, a Argentina se destaca como grande produtor de cerejas de alta qualidade: as frutas cultivadas no país se sobressaem por seu calibre, sua polpa carnosa e sua suculência, sendo exportadas para mercados de todo o planeta.
O toque doce e ácido de uma cereja fresca é sem dúvida o acompanhamento perfeito para uma taça de espumante. Mas, também, para ser protagonista em receitas doces e salgadas. Por isso, uma experiente cozinheira nos ensina a seguir como fazer em casa uma sobremesa memorável.
Panna cotta e muito mais
A cozinheira Paula Chiaradia, proprietária do restaurante Fonda Sur Bistró y Almacén, em Trevelin, na província de Chubut, é especialista em produtos da Patagônia e baseia sua proposta gastronômica nas delícias encontradas na região: cogumelos únicos (como, por exemplo, os cogumelos comestíveis conhecidos na região como “morillas”), frutos vermelhos do bosque (groselha, sabugueiro, rosa-mosqueta), cordeiro, truta de rio e muito mais.
Chiaradia viajou por todo o país trabalhando em distintas cozinhas profissionais e em seus anos de formação passou pelo mítico restaurante ElBulli, do renomado chef espanhol Ferrán Adriá.
Há tempos ela vive neste pequeno povoado galês, onde além de levar adiante seu restaurante — sempre em contato com todos os produtores da região — dá aulas de culinária e compartilha seu conhecimento com nativos e turistas do mundo todo.
“Cozinhar e viver na Patagônia exige ser ao mesmo tempo forte e sensível, aprender a se adaptar às mudanças e ser criativo. Ser patagônico é fluir em harmonia com a natureza e compreender que somos parte, mas nada nos pertence. A cozinha sulista tem a rusticidade, o calor e os sabores do bosque, do lago, dos prados. Cozinhar na Patagônia é sentir as estações, o fogo, a água, o canto dos pássaros, a neve, as cores, os aromas…”, se entusiasma.
Como ela também é uma grande confeiteira, as cerejas de verão não faltam entre as opções de sobremesa dos seus cardápios. A seguir ela compartilha sua versão preferida de um clássico italiano, a panna cotta.
Panna cotta de chocolate branco e cerejas
Ingredientes (para 4 porções)
- 500 g de creme de leite
- 70 g de açúcar
- 150 g de chocolate branco
- 6 g de gelatina incolor
- 200 g de cerejas frescas sem caroço, cortadas ao meio
- 50 g de cerejas inteiras
- Folhas de menta (a gosto)
Modo de fazer:
- Hidratar a gelatina em água fria. Picar o chocolate branco e reservar.
- Misturar em uma panela pequena o creme de leite com o açúcar e cozinhar sob fogo médio até começar a ferver. Retirar do fogo, jogar a preparação sobre o chocolate reservado e mexer até que fique uma mistura homogênea.
- Acrescentar a gelatina, mexer até se dissolver por completo na preparação.
- Repartir a panna cotta em porções individuais, intercalando uma camada de cerejas descaroçadas e outra de panna cotta até terminar de encher as tigelas.
- Deixar na geladeira até endurecer, por cerca de 3 horas.
No momento de servir, decore cada porção com cerejas cortadas ao meio e outras inteiras, além de colocar uma folhinha de menta fresca.
Cerejas argentinas for export
A Argentina vende para o exterior grande parte de sua produção e se encontra entre os nove primeiros exportadores mundiais de cerejas, de acordo com dados do setor. No hemisfério sul, compete com o Chile e com a Nova Zelândia.
Tradicionalmente, o cultivo se concentrava na província de Mendoza, mas com o passar do tempo outras províncias foram somando superfícies plantadas, como Neuquén, Rio Negro, Chubut e Santa Cruz.
Curiosidades
- A cerejeira é cultivada desde a Pré-historia na região do Mar Negro e do Mar Caspio. Foram encontrados caroços em abundância em assentamentos humanos da Idade da Pedra datados de cerca de 6 mil anos a.C.
- As “sakura”, as cerejeiras ornamentais do Japão e suas flores, são um dos símbolos mais conhecidos da cultura nipônica. Simboliza a união familiar, a amizade e a efemeridade da vida.
- Na China, as cerejas são consideradas um presente suntuoso para as comemorações de fim de ano.
- O nome “cereja” vem de Cerasonte, cidade italiana onde o cultivo desta fruta se desenvolveu intensivamente.
- Os romanos estenderam seu cultivo através da técnica do enxerto e deram origem a novas variedades ao longo do tempo. As cerejas formavam parte das rações dos soldados e, à medida que viajavam, os caroços descartados por eles se transformaram nas árvores que se proliferaram em todo o império. Há um ditado popular que diz que, para chegar a Roma, basta seguir o caminho marcado pelas cerejeiras silvestres.
Cerejas e vinhos. Já que falamos de Trevelin, nada melhor que provar os Pinot Noir desta região (que inclusive já conta com sua própria IG). Explica Chiaradia: “Os três vinhedos mais antigos da região são Viñas del Nant y Fall, Casa Yagüe e Contra Corriente. Os Pinot Noir que essas vinícolas produzem têm uma acidez pronunciada, são frutais e frescos e combinam perfeitamente com as cerejas”.
Ainda sem sair dos vinhedos patagônicos, outra opção imbatível para acompanhar o sabor das cerejas são os espumantes rosé de Rio Negro e Neuquén, elaborados também com base de Pinot Noir. Entre eles se destacam H.Schroeder Brut Rosé, Mantra Rosé Extra Brut, de Secreto Patagónico, e Humberto Canale Espumante Rosado Dulce.
Agora você já sabe. Panna cotta com cerejas e vinhos da Patagônia, uma festa para os sentidos.