“Trabalhamos para visibilizar o papel das mulheres na indústria e promover nossos vinhos de altura”

Mulheres do Vinho Salta

Carla Dal Borgo, bióloga de formação e encarregada das relações institucionais e da área de RSE da Bodega Dal Borgo, em Animaná, Salta, é também presidenta da Associação Mulheres do Vinho Salta.  

Criada em maio de 2019, a Associação surgiu durante um encontro de posicionamento do vinho de altura que se realizou em celebração ao Dia do Malbec, em 2018. “Nessa oportunidade reunimos muitas mulheres: havia distribuidoras, vendedoras, donas de vinotecas, gerentes de vinícolas, comunicadoras, produtoras. E surgiu a ideia de nos unir, porque sentimos que faltava não apenas comunicar sobre a indústria do vinho, mas também sobre o trabalho das mulheres no mundo do vinho. Então, a Associação foi criada primeiro visando gerar vínculos entre mulheres do âmbito da viticultura”, explica Carla. 

Nesse sentido, a Associação aderiu, em parceria com a Wines of Argentina, aos Princípios de Empoderamento da Mulher (WEPs), uma iniciativa lançada pela ONU Mulheres e o Pacto Global das Nações Unidas em 2010 para promover a igualdade de gênero nas empresas, no ambiente de trabalho e nas comunidades em que operam.

Como mulher vinculada ao vinho saltenho, Carla Dal Borgo também participou como expositora da Mesa de Vitivinicultura no último Encontro Regional de Salta, organizado pelo Governo da Cidade de Buenos Aires nessa província (onde também se realizou uma oficina em políticas de inclusão nas empresas). Foi nessa ocasião que conversamos com ela.

Mulheres do Vinho Salta

 Associação Mulheres do Vinho Salta

Como os objetivos da Associação Mulheres do Vinho Salta foram evoluindo?

Bem, nos propomos potencializar o desenvolvimento e dar visibilidade às mulheres desta indústria e, por outro lado, fomentar o posicionamento dos vinhos de altura. Nesse sentido, agora também se somam profissionais de Tucumán, porque abarcamos todo o Valle Calchaquí. Queremos promover nossos vinhos de altura e o desenvolvimento local e regional. Esses são nossos dois objetivos principais. 

Quais são as tarefas que vocês realizam?

Fazemos treinamentos internos que além de oferecer formação, também favorecem as conexões e o aprendizado mútuo entre todas. Algumas destas ações também são abertas ao público, como no caso de degustações e seminários, por exemplo.

Sempre marcamos presença nas datas importantes, como por exemplo no Dia do Malbec e na Semana do Torrontés, para continuar aprofundando o conhecimento sobre nossas cepas e como elas se expressam nesta região. Além disso, todos os anos fazemos um projeto relacionado com responsabilidade social. Para ter uma ideia, trabalhamos com uma empresa “B” em um programa que se chama “Mulheres que deixam pegadas”, onde se abre uma convocação para empreendedoras, sem importar se seu projeto é grande ou pequeno. São oferecidas ferramentas de empreendedorismo, como criar um plano de negócios, promover seus produtos e desenvolver suas redes sociais, entre outras propostas. 

São instrumentos para potencializar o desenvolvimento das mulheres em primeiro lugar. É claro que não excluímos os homens, pelo contrário, são capacitações abertas para todos que estiverem interessados. 

Mulheres do Vinho Salta

A associação é formada por quem?

Somos cerca de 40 integrantes, entre sommeliers, comunicadoras, profissionais vinculadas ao turismo, gerentes de vinícolas, tem de tudo um pouco. Fomos nos reunindo por afinidade, mas a partir de agora vamos oferecer a oportunidade de filiação, para abrir espaço para mais mulheres, talvez não vinculadas tão diretamente à indústria do vinho, mas sim a tudo que o vinho movimenta, como a gastronomia, o turismo, a hotelaria e outros setores. 

Historicamente, em Salta, quais são os papéis desempenhados pelas mulheres na viticultura?

Em geral os homens sempre detinham a visibilidade, apesar de que as mulheres sempre trabalharam como colheitadeiras, especialistas em enologia, gerentes de vinícolas, agrônomas. Nossa grande inspiração para a formação do grupo foi Nelly Murga de Córdova, dona da vinícola Vasija Secreta. Ela também fundou a Associação Bodegas de Salta, uma grande pioneira da área.

Hoje há mais mulheres visíveis, que estudam carreiras específicas como agronomia e enologia. No passado elas também faziam de tudo, mas sem diploma. E também estavam e estão as que na vinícola acompanham as e os profissionais, suas filhas e filhos em um papel de vital importância. São administradoras, responsáveis pelo negócio familiar e sua visão e apoio é fundamental. 

Além disso, tem muitas mulheres com projetos que não se conhecem tanto, então a Associação as acompanha para serem visibilizadas. Por exemplo a Raquel Humano, ela é técnica em turismo e está estudando para ser sommellier, tem um empreendimento familiar que se chama Inicios, em Cafayate, e o apresentou na última feira de vinhos que se realizou em Bariloche, onde foi muito bem recebido. É apenas um exemplo, e por sorte há vários outros casos.

É crescente a quantidade de profissionais mulheres do vinho Salta?

Sim, a província oferece distintas carreiras para estudar enologia e agronomia: tem a Universidad Nacional de Salta e o Wine Institute Salta, onde muitas mulheres estão estudando através desses cursos. O melhor de tudo isso é que se oferece uma projeção laboral às pessoas do lugar, então hoje podem estudar sem ter que ir para Mendoza, que era o que acontecia. Agora elas se formam e podem continuar trabalhando em sua região. Também, gradualmente, em Salta estamos começando a dar valor aos sommeliers para amplificar o papel de comunicadores que eles desempenham, um trabalho fundamental tanto nas vinícolas como na gastronomia. 

Mulheres do Vinho Salta

Quais são os projetos futuros da Associação de Mulheres do Vinho Salta? 

Queremos abrir as portas para a comunidade, pois o vinho é um fio condutor para muitas coisas e promove o desenvolvimento regional. Continuaremos realizando seminários e treinamentos, como por exemplo os que fizemos sobre o Torrontés destinado aos trabalhadores do setor de serviços e restaurantes, para aperfeiçoar tudo o que eles podem comunicar em seus estabelecimentos. A proposta é que eles não somente sirvam uma taça, mas também conheçam e possam transmitir toda a história que há por trás desta uva e que -sem dúvida- é um plus para que os consumidores vivam uma experiência superior no próprio restaurante.

E isso não só com o Torrontés, mas também com o Malbec e outras cepas, a ideia é contar por quê aqui se expressam de forma tão singular, diferente de outras regiões. O vinho tem uma importância cultural, econômica, simbólica. Esta é a nossa contribuição, vamos seguir crescendo.

Saiba mais sobre Women of Argentina aquí.

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