Por que a Argentina tem condições únicas de deslumbrar com as etiquetas Cabernet Franc. Paz Levinson compartilha exemplos do surpreendentes Cabernet Franc Argentino e assemblages com Malbec.
Sempre acontece com o Cabernet Franc: na primeira vez que ele é cheirado, uma explosão impressionante de aromas te surpreende. É um traço de ervas, exótico e ao mesmo tempo cativante, que faz pensar que as pirazinas – causadoras desse efeito no nariz – não são um defeito, como se costuma pensar.
Foi assim na primeira vez que um Cabernet Franc Argentino me sacudiu. Era de cor escura, concentrado. No nariz era intenso: os aromas de pimentão verde assado e de cassis saltavam da taça. Também tinha pimenta do reino e um traço de eucalipto e cardamomo. Sou fã deste componente aromático, adoro os Cabernets Sauvignons de colheitas mais frias e os Carmeneres que deixaram que fossem eles mesmos.
Há enólogos que se assustam com esse traço “verde”. Eu não tenho medo de que ao provar na boca, sejam revelados taninos maduros, intensos, mas redondos: esse é o segredo. Adoro que no nariz seja assim, diferente, selvagem, que seja um pouco descontrolado, mas que ao mesmo o tempo seja tão elegante com um pouco de tempo na garrafa. Esse vinho que me marcou, e que lembro exatamente quando provei pela primeira vez, era o Pulenta Gran Cabernet Franc 2006. Outra pioneira é a família Benegas, com seus vinhedos localizados na Finca Libertad na costa alta do Rio Mendoza, Cruz de Piedra, Maipú (850 metros acima do nível do mar), de onde surge um Cabernet Franc elaborado com uvas plantadas por Tiburcio Benegas em 1899. A mesma coisa acontece com Lagarde, com seu Henry histórico, o 2003 por exemplo, e o sulino mais famoso: Humberto Canale Gran Reserva Cabernet Franc.
Com somente 1146 hectares na Argentina, há vinhos elaborados com esta variedade que obtiveram as pontuações máximas em publicações como Wine Advocate. O Gran Enemigo é um favorito há anos, não somente o de Gualtallary (nessa edição 85% CF com 100 RP), mas também terroirs como El Cepillo ou Chacayes. O Gran Enemigo é uma das explorações mais interessantes desta variedade na Argentina com porcentagens de Malbec.
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Em matérias anteriores havia detalhes sobre a cepa, e também comparações entre a França e a Argentina. Quando penso em Cabernet Franc, penso em um grande vinho. Na Argentina temos muitos exemplos de uma qualidade altíssima; por outro lado, se pensamos na Itália, encontramos só alguns, como o Paleo Rosso (Le Macchiole). Temos tantos com este mesmo nível de excelência que é difícil selecionar e só recomendar alguns.
Entre eles, tenho muito boas lembranças da maneira de elaborar esta cepa que o Mariano di Paola tem na Rutini. Salentein também possui um Cabernet Franc argentino de altitude muito interessante. O legendário Catena Zapata Cabernet Franc, hoje elaborado com uvas de San Carlos, é outro que se destaca; o mais moderno, mas não menos qualificado de Trapiche Gran Medalla, assim como o Luigi Bosca Gala 4 (não 100% CF, mas uma grande porcentagem), um dos melhores vinhos dessa casa, integram também a lista.
Por outro lado, os inovadores Cabernet Franc de Zorzal, Zuccardi San Pablo, a família Bressia com seu Monteagrelo delicioso, Norton Altura Cabernet Franc, os vinhos dos Miche, Finca Beth Rompecabezas, Riccitelli e Desquiciado, entre outras, são etiquetas para destacar.
Sabemos que como monovarietal é incrível e conquista consumidores e alguns detratores sensíveis à pirazina. Agora nossa força imbatível são os blends com Malbec. Apesar de no Loire às vezes se mesclar a cepa Côt (Malbec) com Cabernet Franc, não é uma prática habitual e não está amparada pelas apelações de origem.
Na Argentina temos essa ficha importantíssima para jogar: Cabernet Franc-Malbec em diferentes solos, mais profundos como os de Agrelo ou mais calcários e austeros como os de Gualtallary, e também Cabernet Franc Malbec ou ao contrário de diferentes terrenos, diversos elaboradores e amplas gamas de preço. Não há outras regiões no mundo onde estas duas cepas se revelem de forma tão identitária e harmoniosa em lugares similares.
Pessoalmente acho que, hoje em dia, os vinhos mais elegantes da Argentina têm essa mescla única (que só no país pode ser conseguida) de Malbec e Cabernet Franc: Benmarco Expresivo 2016 (incrível), Michelini e Muffato GY 2018, Superuco 2016, Matervini Tinto 2017, Trapiche Iscay, Gala 4, 2km Malbec Cabernet Franc 2017, Fuego Blanco Cabernet Franc Malbec 2017, Norton Lote Negro 2016, Gran Enemigo Gualtallary (agora sem CF na etiqueta, já que há maior porcentagem de Malbec) e as sublimes interpretações de Per Se, entre tantos outros exemplos de grandes vinhos com estas duas grandes e nobres cepas.