Não muitos países têm vinhedos a mais de 1.000 metros. Na verdade, eles são a exceção no mundo. A Argentina, no entanto, é uma exceção, e os vinhos de montanha seu principal atrativo. Com uvas no pé e nas encostas dos Andes, o quinto produtor mundial de vinhos, apresenta cerca da metade de sua superfície cultivada nessas altitudes mágicas, conseguindo vanguarda em termos de gostos e estilos, e desenvolve conhecimento científico e pesquisa sobre o assunto.
Se a parte, ou uma rolha, vale pelo todo, o Valle de Uco tem todos os seus vinhedos (30.000 hectares) a mais de 1.000 metros de altura, e algumas parcelas chegam a 1.600 e 1.900 metros. Os extremos, claro, são uma constante nesta região, mas também nos setores do norte do país. É que dos Vales Calchaquíes a Humahuaca e de Fiambalá ao Chilecito, passando pelo coração de Luján de Cuyo, os vinhedos argentinos marcam um pico no mapa da altitude mundial.
Por isso, cada vez mais bodegas no país falam de vinhos de montanha ou de vinhos de altitude. É uma espécie de efeito orgulho: o que marca a diferença é também um ponto de apoio e distinção.
Paralelamente, a questão, pelo menos do ponto de vista do consumidor, é outra: saber quais efeitos de terroir a altitude oferece e como ela molda os vinhos de montanha.
Vinhos de montanha: em cima, nos Andes
Se hoje alguém se pregunta como as terras de altura funcionam, na bibliografia local existe pelo menos uma dezena de estudos com aval de revistas científicas de prestígio, que abordam o fenômeno. Há diversas assinaturas, como de Ariel Fontana, Fernando Buscema, Martín Kaiser e Roy Urvieta, mencionando somente pesquisadores argentinos que, tanto em universidades como em centros privados como o Catena Institute of Wine, se focam em desentranhar esse efeito. Resumindo, é possível afirmar o seguinte:
Moderador de temperatura. É o efeito mais conhecido e o que permite plantar vinhedos do trópico de Capricórnio até o sul da Argentina. E a cada 150 metros – para estabelecer um parâmetro, já que o valor também muda com a latitude – acima, em um ponto do mapa, a temperatura média descende 1°C.
Assim, um vinhedo plantado a 1.000 metros, em comparação com outro a 1.600, oferece uma diferença de temperatura média em torno dos 4°C. Enquanto o primeiro estará em una zona moderadamente quente, o segundo se localizará em uma zona fria. E se sabe que terão diferentes estilos: enquanto o calor origina tintos frutados, de estrutura e frescor moderado, as zonas frias produzem aromas mais herbais e florais, com taninos mais firmes e acidez constante.
Aumenta a radiação. Como é fácil deduzir, à medida que se sobe, a radiação solar também aumenta. Enquanto no nível do mar o sol tem 100% da atmosfera para filtrar seu poder, a 2.000 metros essa capacidade sofre 30% de redução. Em outras palavras, a radiação aumenta na mesma proporção em que a altitude aumenta. Os resultados nas videiras são notáveis. De acordo com pesquisas, a planta funciona sob um modelo de estresse: enquanto a resposta mais óbvia é que produz mais cor, como mecanismo de defesa, também regula a síntese de compostos fenólicos de outra maneira, ao modificar o comportamento de hormônios importantes. Quanto aos tintos, ganham estrutura e cor.
Há outros efeitos, no entanto, que não se associam à altitude em si, mas aos Andes como fornecedores dessas condições.
O mais evidente e consistente é físico. Conforme maior a altura, maiores são as encostas e mais novos são os solos. Além disso, os materiais oferecidos pelas montanhas mudam de um ponto para o outro pelos rios e pelas ações próprias da gravidade.
De todas as formas, a combinação de solos e alturas propõe uma espécie de quebra-cabeça no qual as primeiras configurações de terroir apenas estão começando a ser decifradas. No entanto, uma coisa é certa: a altitude é peça chave para interpretar boa parte dos vinhos de montanha argentinos.
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