Jancis Robinson: “A Argentina está fazendo Cabernet Franc melhor que o Loire”

Jancis Robinson

Cinco anos depois da sua última passagem pela Argentina, Jancis Robinson, a Master of Wine mais famosa do mundo, regressou a Mendoza para exaltar sua atualidade vitivinícola. Organizada pela consultora Jump Start, sua nova viagem teve como objetivo degustar mais de 250 vinhos que lhe permitiram descobrir uma ampla gama de variedades, segmentos de preço, regiões e estilos.

Reconhecida e respeitada em todo o mundo, Jancis Robinson é conselheira da adega da Rainha Isabel II, colunista de vinhos do The Financial Times e autora de livros de vinhos indispensáveis como o The World Atlas of Wine, que escreve desde 1971 com Hugh Johnson.

Os artigos e pontuações de vinhos relacionados a esta visita de Jancis Robinson já podem ser vistosem www.jancisrobinson.com (a última publicação será em 19 de março). Neles, são destacadas as mudanças favoráveis que a Argentina atravessa com seus vinhos, com atenção particular para a qualidade dos brancos. Jancis Robinson também aborda a transformação dos tintos, principalmente dos de Malbec e o intenso trabalho sobre a caracterização de solos e microrregiões estampado nas Indicações Geográficas.

Em seguida, uma breve, mas deliciosa conversa com Jancis Robinson:

Passaram-se 5 anos desde sua última visita à Argentina; qual é a sua avaliação da indústria vitivinícola argentina?

De alguma maneira, estava agradecida por terem passado 5 anos desde minha última visita, porque fez com que eu pudesse apreciar uma evolução enorme no vinho argentino: de impactantes vinhos um pouco toscos a algo muito mais sutil com tintos bem influenciados por sua origem e geografia.

 

Nos tintos de Malbec, que mudanças você avaliou?

Houve uma mudança de estilo, particularmente nos Malbec e – de maneira mais relevante – nas composições de Malbec. Os Malbec poderosos, fortes, com muito carvalho, que em algum momento foram tão populares nos Estados Unidos, agora estão acompanhados de estilos completamente novos, muitas vezes resultado de vinhedos de altitude, mas também de novas técnicas e métodos incluindo tanques de cimento e até de argila.

 

entre as variedades não tradicionais que degustou, encontrou alguma de destaque?

Minha opinião é que a Argentina está produzindo Cabernet Franc melhores que o Loire, e os Petit Verdot são mais consistentes do que em Burdeos. Também gostei de alguns Bonarda e, inclusive, de alguns Criolla feitos de maneira criativa. País de Chile e Mission, na Califórnia, estão muito na moda, e são a mesma uva.

 

Nicholas Lander, Gabriela Malizia & Jancis Robinson.
Nicholas Lander, Gabriela Malizia & Jancis Robinson.

 

O que opina dos vinhos brancos, principalmente do Chardonnay?

Tive uma impressão muito positiva de alguns dos brancos, acho que a qualidade dos Chardonnay Argentinos pode ser muito alta. Entre os enólogos do vinho, atualmente existe mais respeito em relação ao Sémillon e ao Chenin Blanc, principalmente os que provêm de vinhas antigas. Ademais as composições de brancos também são muito interessantes. Também degustei alguns brancos elaborados com uvas típicas do Ródano, que considerei muito bem feitos.

Mas voltando ao Chardonnay, há muito tempo acho que o Chardonnay Argentino pode ser muito bom – ainda que seja o terceiro em superfície cultivada, depois do Pedro Giménez e do Torrontés Riojana, e represente somente 3% da superfície total semeada. Quando cultivado em localizações relativamente frescas e bem feito, deveria estar à altura dos melhores Chardonnay de Margaret River, no Oeste da Austrália (e isso quer dizer muito). Também preciso dizer que entre os vinhos mais estimulantes que provei foram três Chardonnays criados sob véu de levedura.

 

Que conselho daria para as bodegas argentinas melhorarem sua performance, como no Reino Unido e nosEstados Unidos?

Diria que com preços justos e razoáveis. Ter etiquetas e apresentações bonitas, mas chega de garrafas pesadas!!

 

Você está muito interessada na sustentabilidade. Qual é sua opinião sobre o trabalho da viticultura argentina neste aspecto?

Gosto da ideia do programa oficial de sustentabilidade que mencionaram para mim na visita à Catena Zapata. As bodegas individuais podem se inscrever e serem controladas para garantir a melhora de suas práticas todos os anos. É um pouco parecida à iniciativa IWCA, International Wineries for Climate Action.

 

Mendoza está se mexendo para a diferenciação do solo através de indicações geográficas, principalmente no Valle de Uco. Acha que esta diferenciação poderia ter um impacto positivo no consumo de vinho argentino?

Acho que estão se mexendo na direção certa, mas que levará tempo até que os consumidores entendam isso. Mas me impressionou a evolução em relação à delimitação geográfica genuína (e não limites políticos), quando comparada com outros países produtores de vinho fora da Europa.

 

A partir de 19 de março, o relatório completo do Jancis Robinson sobre a vitivinicultura argentina e seus vinhos poderá ser lido em www.jancisrobinson.com

Se você gostou deste artigo, certifique-se de saber os detalhes sobre O encantador leste de Mendoza

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