Os solos calcários, um clima especial influenciado pelos ventos marítimos do Atlântico, os conhecimentos, a história e as técnicas aplicadas na elaboração do vinho, tudo isso aliado a uma investigação profunda que consumiu vários anos de trabalho, resultaram no reconhecimento da IG Balcarce por parte do INV (Instituto Nacional de Vitivinicultura da Argentina).
Promovida pela equipe da Bodega Puerta del Abra (localizada em El Vallecito, no interior do sistema de serras de Tandilia, uma formação geológica que tem mais de 2.200 milhões de anos), na província de Buenos Aires, a IG Balcarce coincide com os limites geográficos do mesmo município.
A vinícola se encontra a 60 km de Mar del Plata, a cidade balneária mais famosa da Argentina, e é propriedade do empresário Jorge Pérez Companc: lá ele produz seus vinhos de primeira qualidade da linha “Insólito”, vendidos de forma direta a todo o país através do seu site web, e também em vinotecas, restaurantes de Buenos Aires como Don Julio, Crizia, Chila e Sarasanegro (em Mar del Plata) e winebars como VinoBien e Vico.
A equipe da Puerta del Abra começou o projeto em 2013 e atualmente possui 12 hectares com distintas variedades cultivadas, como Pinot Noir, Cabernet Franc, Bonarda e Tannat — entre as tintas — e Chardonnay, Albariño e Riesling — entre as brancas.
A enóloga Delfina Pontaroli, com quem conversamos, e seu time lideraram as pesquisas sobre o terroir e prepararam toda a documentação necessária para a aprovação da IG (trabalharam em parceria com Lydia e Claude Bourguignon, especialistas na identificação de terroirs, que também ajudaram na investigação).
IG Balcarce, um plus para os vinhos bonaerenses
De que forma esta nova IG coloca a província de Buenos Aires no mapa como um novo ponto de referência vitivinícola do país?
Acredito ser muito importante ter conquistado a IG Balcarce. O fato de continuarem aparecendo outras IG em Buenos Aires começa a mostrar o potencial que a província tem, não só em relação à capacidade de produzir vinhos de qualidade, mas também o quão heterogênea é. Porque dentro de uma mesma província estamos encontrando características climáticas totalmente diversas.
Inclusive dentro da IG Balcarce, sei que com o passar do tempo vamos encontrar heterogeneidades que vão requerer novas IGs. Isso implica muito trabalho ao nível solo e microclima, o que é ótimo para o desenvolvimento da zona vitivinícola.
Uma serra, um riacho, o fato de estar perto do mar, são fatores que influenciam totalmente as condições para o cultivo e fazem com que a região tenha um potencial incrível. Além disso, algumas das vinícolas mais importantes começam a desenvolver projetos de grande porte na região.
Como foi o processo de trabalho que realizaram para conseguir o estabelecimento da IG?
Começamos no início de 2019. O INV pede uma compilação de dados extensa, um estudo profundo do lugar para aprovar uma nova IG. Foi necessário justificar por que este lugar se diferencia de outros, que potencialidades tem. Realizamos pesquisas de clima, de solo, apuramos a história do lugar, da cidade e a geologia da área que finalmente se definiu como IG. Fomos apresentando muitos relatórios, e apenas em 2022 conseguimos completar a pasta com toda a documentação. Foi assim que conquistamos a IG Balcarce. É um grande orgulho para nós sermos pioneiros neste tema e também representa um grande desafio para o nosso futuro.
Tem outras vinícolas na região que podem entrar na IG?
Hoje somos a única vinícola em Balcarce que está inscrita no INV, mas sei que existem projetos emergentes. Tem vários vinhedos — alguns já plantados, outros em projeção que ainda não tem sua vinícola nem estão elaborando vinho. É questão de anos até que comecem a aparecer novos aspirantes, isso com certeza vai acontecer.
Quais são os diferenciais dos vinhos produzidos na região compreendida pela IG Balcarce?
Por um lado, a acidez marcada, a acidez natural da uva, o nível alcoólico mais baixo, já que a graduação alcoólica sempre ronda entre os 12° e os 12,5°. O caráter mais austero em matéria sensorial; são vinhos não tão intensos em aromas a frutas maduras nem a frutas tropicais, mas que apontam a notas florais muito delicadas, notas cítricas e notas minerais como grafite, por exemplo. Também encontramos notas balsâmicas de ervas aromáticas. Têm um perfil diferente, são vinhos muito elegantes que não se caracterizam pela sua concentração, mas sim pelo seu equilíbrio.