É o segundo maior país em extensão territorial do mundo e grande parte de seu vasto território permanece inabitada. Imagine o silêncio: montanhas imponentes, bosques, geleiras, lagos prístinos, ursos e sequoias. Sem dúvida, o Canadá é um mistério a ser descoberto para os que vivem do outro lado do mundo.
Sua cultura é a fusão de muitas outras, entre elas a dos povos originários e a dos britânicos, franceses, escoceses e asiáticos que passaram por lá: todos deixaram a marca de sua língua e seus costumes. As cidades mais importantes são modernas e cosmopolitas: Ottawa, Quebec, Toronto, Montreal e Vancouver oferecem inúmeras propostas aos visitantes e, é claro, também a sua singular gastronomia.
Para conhecer melhor este país, um bom ponto de partida é experimentar seus pratos típicos. Mas qual é o sabor do Canadá? Quais são suas receitas emblemáticas? Como combinar culinária canadense e vinhos argentinos?
Sabe-se que é um país onde a agricultura é muito importante: produzem trigo (sendo o maior produtor mundial), arroz, soja, amendoim, centeio. Favo de mel (o Canadá produz 80% da quantidade de mel consumida no planeta), linhaça, canola, mirtilos e mostarda (É isso mesmo! A mostarda global procede, em geral, destas terras longínquas do norte). Carnes, peixes (especialmente salmão) e verduras tampouco faltam na mesa típica canadense.
Assim, muitos dos pratos que hoje são tradicionais no Canadá são fruto de muitas culturas e regiões. Convidamos você a conhecê-los e, aproveitando a deixa, pensar que estilos de vinhos argentinos poderiam ir muito bem com estas delícias canadenses.
A seguir, então, um guia para apreciar a culinária canadense e vinhos argentinos.
Culinária canadense e vinhos argentinos
Entre os produtos mais famosos da culinária canadense, não é possível visitar o Canadá sem provar o xarope de bordo (é um elemento tão importante nesta cultura, que a folha desta árvore faz parte da bandeira nacional); o salmão (se bem seus mares lagos possuem numerosas espécies de mariscos e peixes como atum, linguado, pargo), provavelmente o salmão seja um dos ingredientes mais populares na mesa deste país, especialmente na Colúmbia Britânica.
Carne, frutas e legumes, milho e produtos lácteos (no Canadá se consome muito queijo), completam a mesa diária dos canadenses. Agora… que vinhos argentinos podem acompanhar as receitas canadenses? Vamos descobrir quais são os pratos emblemáticos de norte a sul e os vinhos perfeitos para harmonizar com eles.
Peameal. A famosa “panceta” deriva da barriga do porco (daí o nome que faz alusão à pança), mas o toucinho canadense é lombo de porco magro empanado com farinha de milho. Antigamente se usavam ervilhas amarelas, por isso a origem de seu nome em inglês. É o elemento protagonista de um dos sanduíches mais famosos de Toronto.
José Luis Fernández, eleito o melhor sommelier de Ontário em 2019 e profundo conhecedor dos vinhos da Argentina, ensina: “A vibrante acidez natural dos Pinot Noir da Patagônia quebram a intensidade do peameal, e os sabores de frutas vermelhas frescas e maduras com os elementos salgados do vinho complementam os sabores complexos dol prato”.
Poutine. De origem francesa, é um prato autêntico: batatas fritas cobertas com molho picante e queijo. Qualquer refeição canadense é considerada incompleta sem poutine e até existem muitos festivais gastronômicos por lá em sua homenagem.
Para esta preparação popular, temperada e saborosa, Liz Luzza, especialista em vinhos argentinos, assegura que “os Torrontés, especialmente os dos Valles Calchaquíes — zona do noroeste argentino — são uma combinação muito interessante graças à frescura e personalidade deste branco original da Argentina”.
Tourtière. Uma espécie de bolo ou enrolado de carne, cuja origem remonta à época da colonização francesa no Quebec, que hoje em dia é também um prato típico de muitas outras cidades do país. A receita possui dois ingredientes básicos: uma massa de pão com carne moída de boi e de porco, além de toucinho com batatas, cebola e aipo. Como se fosse a tradicional “carne a la masa” de Mendoza, o preparado é coberto com massa e vai ao forno até ficar cozido.
É novamente José Luis Fernández que nos ajuda com a harmonização e esclarece: “Esse prato costuma ser preparado com carnes de caça. Então eu definitivamente o combinaria com um Syrah de altura, como os do Valle de Uco. Os aromas e sabores carnosos naturais do Syrah, junto às notas de pimenta-negra, combinam muito bem com as especiarias sutis do tourtière. As notas profundas de frutas negras do vinho complementam os sabores gerais do prato, fazendo com que o comensal volte a tomar outro gole de vinho após saborear cada garfada”.
Carne de Calgary. Uma das áreas mais conhecidas para a produção de carne é Calgary, onde a carne de vaca é assada na churrasqueira com batatas fritas e salada. Parece familiar para você?
Logicamente, os malbec argentinos são uma proposta super acertada para estas carnes. Quando se trate de cortes gordurosos e suculentos, será melhor pensar em rótulos elaborados com uvas do Valle de Pedernal e dos Valles Calchaquíes. Mas se os cortes forem magros, a voluptuosidade de um Malbec de Lujan de Cuyo, por exemplo, pode combinar perfeitamente.
Sopa de ervilhas. Um prato franco-canadense clássico com verduras, ervilhas e ervas que é uma tradição em todas as casas. Como ele pode ser acompanhado? Um Chardonnay do Valle de Uco criado em carvalho sem dúvida contribuirá com suficiente estrutura, além de acidez vibrante para refrescar o paladar e cortar a textura cremosa da sopa.
Sobremesas clássicas
Torta de manteiga. Uma massa quebradiça com recheio de manteiga, ovos e açúcar, além de uvas-passas, é unanimidade em todas as padarias e cafeterias do Canadá. Como a tradicional “medialuna” de manteiga e o café de qualquer bar de Buenos Aires. Agora, se ela for oferecida como sobremesa, para concluir um jantar, uma garrafa de Torrontés tardio dos Valles Calchaquíes pode se transformar na combinação ideal, com seus perfumes de flores brancas, acidez vibrante e doçura equilibrada.
Barras Nanaimo. Uma sobremesa canadense clássica de três camadas de creme de manteiga com sabor de baunilha, chocolate derretido e uma mistura de massa folhada. Originário de Nanaimo, na Colúmbia Britânica, é um quitute delicioso e merece um vinho à altura de seu caráter, como podem ser alguns dos malbec de colheita tardia que se tornaram uma das especialidades dos winemakers argentinos que todo paladar curioso deveria descobrir.
E é claro que a lista segue. Tem muitos outros pratos da culinária do Canadá para serem provados e vinhos argentinos para serem descobertos.