No mundo dos vinhos brancos, o Chardonnay é rei. Apesar de ser elaborado em todos os cantos do globo, apenas em alguns poucos consegue alcançar um perfil diferenciado. Nesse sentido, a variedade originária da França tem a possibilidade de mudar de estilo à medida que os terroirs variam, indo de um branco simples com perfil tropical a outro mais complexo e cheio de nuances.
Entre esses extremos, que podem ser facilmente representados entre lugares quentes e frios, há todo um leque de possibilidades que o Chardonnay expressa com clareza. A Argentina oferece uma variedade de climas continentais de moderados a frios, difíceis de encontrar em outras partes do planeta.
Os vinhos brancos argentinos são tão importantes que, na última Prowein, a feira do setor em Düsseldorf, na Alemanha, a Wines of Argentina e o Conselho Federal de Investimentos realizaram um seminário específico sobre este tema para importadores e distribuidores do mundo.
E lá está ocorrendo em 2022 uma espécie de revolução branca em que o Chardonnay tem amplas possibilidades.
Por um lado, trata-se de lugares de grande altitude, onde o frio retarda o amadurecimento e preserva a frescura da casta. E também estamos falando da Patagônia, onde o frio e o deserto se combinam de forma única (com exceção de Trevelin).
Em poucas palavras, o que define o caminho do Chardonnay Argentina 2022 é uma combinação de frio e continentalidade extrema, onde a intensidade do sol e a categoria de solo são fatores que potencializam ou moderam os efeitos.
Chardonnay Argentina 2022: o fator altura
Num extremo possível da continentalidade se encontra o Valle de Uco, e em particular duas Indicações Geográficas com identidades próprias: Gualtallary e San Pablo. Juntas, já que se limitam, formam uma espécie de bacia de terra que sobe em direção à montanha, abrigada pelas encostas. Para ter uma ideia do alcance, ambas partem nos mil metros e em um curto percurso de 15 km alcançam os 1.700 metros com vinhedos plantados ao longo dessas alturas. Ou seja, em termos de cultivo, passam de uma zona de temperatura moderada a uma de frio intenso.
Juntas, elas ocupam cerca de 200 hectares e oferecem Chardonnay de vanguarda: aqui são produzidos os estilos mais extremos e modernos até hoje, com uma equação que combina maturidade e tensão, produzindo vinhos com um ar entre Chablis e Borgonha. Mas não por estarem próximos, significa que sejam iguais.
Se Gualtallary ocupa um território ligeiramente enrugado por algumas colinas, San Pablo está encaixotado contra um cordão. Na primeira localização, os solos variam de arenosos puros a pedregosos e com depósitos calcários. Na segunda, o limo e as pedras compõem diferentes combinações. E enquanto em Gualtallary o sol e a secura do ambiente, com 350 mm de chuvas, marcam o ritmo com certa concentração, San Pablo oferece maior nebulosidade e precipitações que chegam a 450 mm.
Assim, na taça, os Chardonnays Argentina 2022 de Gualtallary oferecem estrutura, com coração de volume um tanto concentrado e alta tensão, e são levemente salgados. Já os de San Pablo são delicados, com alto frescor e perfil leve.
Basta comparar alguns dos melhores Chardonnay em cada caso para chegar a esta seleção:
- De Gualtallary: White Stones 2021, Bemberg Estate 2021, Lagarde Guarda 2021, Terrazas de Los Andes Grand 2020
- De San Pablo: Fósil 2021, Salentein Single Vineyard Las Secuoyas 2021, Tapiz Alta Collection 2021 y Buscado Vivo o Muerto La Verdad 2021.
Patagônia
Do rio Colorado ao sul existem cerca de 180 hectares de vinhedos plantados (dados de 2021). Separados ao longo de 850 quilômetros entre 25 de Mayo, em La Pampa, e Sarmiento, em Chubut, o mesmo efeito de mudança da bacia de altura se repete aqui.
O coração do Chardonnay patagônico, em volume, está no oásis do norte, entre San Patricio del Chañar (Neuquén) e Mainqué (Rio Negro). Comparando, é nos solos profundos e pesados deste último terroir mais frio onde a variedade expressa um carácter mais fino e radical: na boca é leve e muito fresco, com algum carácter salino.
Em contraste, no extremo sul da estepe patagônica, onde o Chardonnay é cultivado em antigos solos lacustres, com areia e cascalho fino, mas com maior exposição ao sol durante o verão, a uva amadurece bem. Conserva, em todo caso, um coração frio e málico de acidez, com um paladar ligeiramente concentrado.
O ponto médio entre tantos extremos seriam os vinhos feitos em Trevelin, a zona menos continental desta viagem, onde a umidade do Pacífico gera um bastião verde.
Um exercício ideal ao comparar os diferentes estilos e regiões seria desfrutar de Chacra Mainqué 2021, de Rio Negro, Fin del Mundo Single Vineyard Finca Antranik 2021, San Patricio del Chañar; Otronia 2019, de Sarmiento e Contra Corriente 2020, de Trevelin (estes últimos na província de Chubut).
Ficamos por aqui, deixando um panorama geral do Chardonnay Argentina 2022.