As pesquisas sobre altitude, Indicações Geográficas para ganhar identidade e uso sustentável dos recursos hídricos ganham terreno em uma indústria cada vez mais precisa. Práticas como essas estão liderando as inovações do vinho argentino hoje.
Coisas invisíveis aos olhos estão acontecendo com o vinho argentino. Invisíveis não porque seja impossível vê-las, mas porque quando acontecem são em uma espécie de câmera lenta que, só quando a escala e o tempo dão a perspectiva correta, se tornam apreciáveis. Isso é o que acontece com algumas inovações do vinho argentino que mudarão o sabor e a vida dos vinhos argentinos.
Estas são as inovações do vinho argentino
É o caso do terroir, por exemplo. Enquanto elaborar vinhos com perfis de lugar é um dos carros-chefes em termos de estilo, nada disto seria possível se não fossem desenvolvidos em zonas diferentes. E esse é um processo longo, de quase 30 anos, que hoje repercute nas taças. É nesses assuntos de fôlego que queremos prestar atenção.
A exploração da altura
Atualmente, não dá para dissociar a Argentina do efeito de altitude. É verdade, quase metade do que é produzido em nosso país está cultivado acima da linha dos 1.000 metros. Uma cota altíssima para o mundo, que hoje parece baixa localmente, quando o desafio é subir para além dos 3.000 no noroeste do país ou passar dos 2.000 em Mendoza.
É preciso, no entanto, entender a altitude. E é aí onde enormes recursos foram colocados. Algumas técnicas, como a administração das vinhas, exigem compreender o que acontece lá em cima: os engenheiros das bodegas exploram os diversos matizes, desde exposições até o equilíbrio folha-fruta, como propõem de Martín Kaiser a Marcelo Belmonte, Doña Paula e Peñaflor, respectivamente.
Outra linha, mais científica, se propõe estudar os efeitos da altitude: alguns centros de pesquisa elaboram papers sobre o assunto, como o Catena Institute of Wines, que vem desenvolvendo uma bibliografia junto com a U.C. Davis.
Entre ambos os fatores pende hoje um universo de estilos associados à atitude que foram desenvolvidos por produtores. E sem essa exploração técnica e científica seria impossível chegar ao centro da questão: explicar como funcionam as vides em lugares tão extremos e como aplicar esses conhecimentos aos vinhos.
IG com conhecimento
Paralelamente ao desenvolvimento da altura, uma das inovações do vinho argentino mais destacáveis deste processo de investigação deriva em dois mecanismos que não se anulam. Um é a divisão em parcelas dos terrenos com fronteiras políticas em unidades menores de fronteiras vitícolas. Dito assim, parece só passar de uma mão para a outra. Mas não é.
Desenvolver Indicações Geográficas de caráter vitícola implica uma inovação técnica central: compreende o fato de que as delimitações das regiões não representavam a verdade dos vinhos e fazer isso forçadamente significa redesenhar os limites das coisas. Atrás desses novos desenhos se esconde uma razão bem profunda: que tipo de vinhos somos capazes de fazer com o conhecimento que temos hoje.
Familia Zuccardi talvez seja um dos produtores que mais se aprofundou nesta pergunta, impulsionando o processo de divisão do Valle de Uco para a aparição de Paraje Altamira. Desse processo surge também o desenvolvimento da San Pablo, do qual a Bodega Tapiz e Salentein foram parte central porque são os principais proprietários de vinhedo na zona. Não são os únicos, no entanto; com eles estão da Terrazas de los Andes até a Bodega Catena, dos produtores pequenos como os de PIPA (Productores Independientes del Paraje Altamira) até Susana Balbo e Doña Paula. Reforçar estes recursos é ganhar precisão nos vinhos. Novas IG estão por vir.
Tecnologia da água
Nenhum destes caminhos seria possível em nosso meio se não fosse pelo uso apropriado da água. Enquanto muitas bodegas se esforçam para reduzir sua pegada hídrica, como a Trivento, que fez da sustentabilidade em termos de água um pilar da casa, outras confirmam a possibilidade de melhorar os sistemas de irrigação. Nesse sentido, o caso da IG de San Pablo é sua máxima expressão.
Em 2019, foi inaugurada a primeira etapa, um sistema de irrigação para a IG que canaliza e pressuriza a água do Arroyo Villegas, aproveitando seu desnível natural da zona, de forma que toda a área (atualmente uns 500 hectares) possa ser regado por gotejamento sem o uso de energia eléctrica. O investimento foi financiado pelo Banco Mundial e promete mudar a capacidade do uso da água, ao mesmo tempo que torna mais eficiente o de energia. É a primeira obra desse tipo na Argentina, mas certamente não será a última.