Sustentabilidade e vinhos: compromisso com o ecossistema e a comunidade nas bodegas argentinas

Sustainability -Sustentabilidad - Sustentabilidade
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Sustentabilidade e vinhos nas bodegas argentinas: Assim como as vides, que ao fincar raízes passam a fazer parte do ecossistema que as abriga e que lhes dá vida, a vitivinicultura é uma atividade econômica intimamente ligada ao seu entorno. É impossível pensar em seu desenvolvimento e projeção sem um olhar sustentável, que garanta o cuidado do ambiente e dos recursos naturais dos quais depende, e também que vele pelo bem-estar da comunidade em que está inserida. Felizmente, essa consciência se encontra cada vez mais enraizada no vinho argentino.

“Hoje o compromisso com a sustentabilidade tem a ver não só com a redução do impacto da vitivinicultura sobre o ambiente, mas inclusive com uma postura de agricultura regenerativa, que permita reverter os danos ocasionados”, considera Facundo Bonamaizón, engenheiro agrônomo da Chakana Wines, bodega que visa a essa agricultura regenerativa através do cultivo orgânico e biodinâmico.

“Entendemos que o sucesso econômico está vinculado ao cuidado com o ambiente, mediante um uso racional dos recursos naturais, e do compromisso com as pessoas e o entorno social no qual operamos. Este círculo virtuoso é essencial no modelo de negócios da companhia”, acrescenta María Victoria Acosta, chefa de Comunicação Corporativa da Bodega Trivento. “Do ponto de vista comercial, hoje administrar nosso negócio de maneira sustentável é a única forma de gerar vínculos de longo prazo com nossos clientes, principalmente no exterior”, complementa Francisco do Pico, diretor de Relações Institucionais do Grupo Peñaflor.

Mas se em um primeiro momento a conversão a um modelo de produção e gestão sustentável foi uma resposta a demandas dos mercados de exportação, hoje fica claro que se trata de um olhar próprio que nasce da compreensão dos desafios que ser uma atividade impactada pelo aquecimento global e seus efeitos sobre o clima e recursos hídricos representa. Um dos efeitos cada vez mais palpáveis, por exemplo, é a crescente escassez de água para irrigação que Mendoza vivencia.

“Mendoza atravessa uma grave crise hídrica e nós, como bodega sustentável, realizamos um trabalho de conscientização muito grande sobre o uso da água: medimos e identificamos permanentemente oportunidades para otimizar. Isto nos permite reduzir o consumo mês a mês, através de vários pequenos detalhes como o uso de mangueiras de fechamento automático”, conta Rodrigo Serrado Alou, enólogo da Domaine Bousquet.

A gestão racional da água que as bodegas argentinas levam adiante têm um impacto positivo verificável. O último relatório de Sustentabilidade da Bodega Norton mostra isso: entre os anos 2000 e 2018 a relação entre consumo de água e produção de vinho reduziu, passando de pouco mais de 10 litros de água por litro de vinho para 2 litros. “90% das nossas propriedades hoje utilizam irrigação por gotejamento”, sinaliza o relatório, que destaca procedimentos de controle e reutilização da água nos processos que já têm lugar não só no vinhedo, mas também na bodega.

 

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Eficiência energética e gestão de resíduos

 

O uso eficiente da energia é outro dos aspectos essenciais, sinaliza Acosta, “tanto pelas emissões evitáveis de gases de efeito estufa como pela economia de custos que representa. Por isso, colocamos em funcionamento um Programa de Eficiência Energética cujas iniciativas e investimentos vão desde práticas simples, como verificar que a iluminação exterior se apague, até a implementação da norma ISO 50.001. Recentemente, a bodega instalou a planta fotovoltaica privada mais importante da indústria vitivinícola argentina. Com 918 painéis, produzirá mais de 505MWh/ano de energia limpa, o que representa 10% da demanda do estabelecimento localizado em Maipú”.

A gestão de resíduos é outro dos aspectos cruciais do compromisso das bodegas com o meio ambiente. “No Grupo Peñaflor trabalhamos com um sistema definido sob uma filosofia dos 4R: redução, reuso, revalorização e reciclagem”, sinaliza um relatório do grupo. “Os bagaços (pele e semente da uva) e borras geradas durante a produção são revalorizados como matérias primas para processos de geração de álcoois, vinagres, ácido tartárico e grappas por parte de fornecedores estratégicos. O talo que se separa da uva é transportado para nossas propriedades para ser convertido em composto”, acrescenta.

Para reduzir a pegada de carbono da atividade, a indústria realizou um profundo processo de transformação em suas embalagens, com o peso da garrafa como elemento central. Menor peso significa menor gasto energético em seu transporte até o destino, o que resulta em menores emissões de CO2. “No ano de 2009, desenvolvemos com a empresa Verallia a primeira garrafa ecológica do mercado, que nos tornou a bodega pioneira na Argentina na utilização de recipientes Eco Friendly”, ilustra o relatório da Bodega Norton.

 

Responsabilidade social

 

Mas o cuidado com o ambiente é uma das facetas da sustentabilidade. A outra é o compromisso com o bem-estar das comunidades nas quais a atividade está inserida. São múltiplas as ações das bodegas argentinas nesse sentido, mas um exemplo ilustrativo é o da Finca La Colonia, da Bodega Norton: “A maior parte do pessoal vive com suas famílias na Finca La Colonia, a maior da Bodega Norton. Atualmente residem 45 famílias às quais se proporciona moradia, saúde e educação. Da mesma forma, durante as horas de trabalho na colheita, os empregados podem deixar seus filhos no Jardim Maternal inaugurado em 2012”, diz o relatório.

Na Finca Nuna, da Chakana Wines, Bonamaizón conta que destinaram uns 2,1 hectares a uma horta em que vários projetos confluem: “Um dos módulos é conscientizar sobre a alimentação saudável do ponto de vista nutricional, e por isso em um sector da horta são produzidos alimentos de forma orgânica, que são divididos entre todos os empregados. Outro setor se destina a projetos dos trabalhadores, para que possam gerar empreendimentos”.

A Bodega Trivento, por sua vez, foi a primeira em instalar uma sala de aula por satélite de um Centro Educativo de Nível Secundário (CENS 3-143) com modalidade semipresencial dentro da bodega, para que seus empregados completem os estudos. Foi em 2008, lembra Acosta. “Desde então três ciclos de três anos foram concluídos, o quarto está em andamento e o resultado são 73 colaboradores com títulos secundários e 3 com primários”. Além disso, em 2012, a Trivento implementou um programa de bolsas de estudo de graduação, especialização técnica e pós-graduação para trabalhadores da companhia, que logo foi ampliado a filhos de colaboradores e crianças da comunidade.

Outro exemplo de responsabilidade social é a adesão aos programas de comércio justo (Fair Trade) que certificam as boas práticas em temas vinculados às condições trabalhistas. Pioneira na matéria é a Bodega Alta Vista, que em 2011 obteve a certificação de Fair Trade para seu vinhedo e para as operações da bodega, criando a Associação Flores del Monte, da qual a empresa e seus trabalhadores participam, e que canaliza os rendimentos obtidos com a venda do seu vinho Fair Trade.

Um exemplo é a compra de novos equipamentos odontológicos e o aperfeiçoamento de um centro de saúde rural (Centro de Salud 202, Solar de Cuyo). Andrea Serna, tesoureira e representante da Alta Vista na organização, destacou o esforço de toda a equipe: “Mais uma vez, o grande trabalho e o compromisso de todas as pessoas que fazem parte da Associação Flores del Monte nos surpreende. Esse tipo de desenvolvimento permite que nossos trabalhadores melhorem sua qualidade de vida, o que dá um senso de comunidade à tarefa que fazem nas propriedades”.

Colaborar com os programas de Comércio Justo das bodegas argentinas é possível ao se desfrutar de vinhos que contam com o certificado de Fair Trade, como Finca Monteflores Malbec (Bodega Alta Vista); Temprano Malbec (Bodega Norton) e Tilimuqui Torrontés Orgânico (Cooperativa La Riojana).

 

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