Marcela Rienzo: “A sommellerie argentina se destaca pela sua sensibilidade com a cultura do vinho e o trabalho”

Marcela Rienzo

A sommellerie a cativou como se ela tivesse levado uma flecha do cupido. Marcela Rienzo trabalhava em marketing e, em uma ocasião – num trabalho de colaboração com uma vinícola – sentiu uma atração especial pelas resenhas dos sommeliers: as histórias de vida das e dos produtores, as descrições repletas de aromas e paisagens, as histórias de encontros e conversas entre taças e brindes. 

Não estava em seus planos trocar de profissão, mas pouco tempo depois ela se inscreveu no novo curso de sommellerie ministrado na Argentina. “Jamais tinha escutado a palavra, nem sabia de que se tratava o ofício, mas o certo é que cada vez que eu saía de uma aula, me sentia ainda mias fascinada”. 

Todo o processo do vinho a deslumbra em muitos sentidos: “Não só o que transforma a matéria-prima (a uva) em vinho, mas também todos os detalhes para que cada rótulo seja único e irrepetível. E, é claro, sou apaixonada pela cultura do vinho, em ver o amor das pessoas que trabalham no vinhedo, na enologia e no serviço. Tantas coisas acontecem com uma taça de vinho nas mãos, é algo mágico, sou uma aficionada”, diz.

Hoje Marcela Rienzo é uma profissional com vasta trajetória: atua como docente, assessora diversos empreendimentos gastronômicos e é uma grande comunicadora do vinho argentino (é a única sommelier com participação fixa em um programa de televisão, o “Cocineros Argentinos”, transmitido pela TV Pública nacional). Além disso, é autora do livro “Chin, Chin, el vino es fácil” e criadora do primeiro kit aromático especializado nos terroirs argentinos, o “Spiritu Aromas del Vino”.

Desde março de 2023 Marcela Rienzo foi eleita a primeira presidenta da Associação Argentina de Sommeliers e seu principal objetivo é aplicar o método que aprendeu com seus avós: trabalhar, trabalhar e trabalhar.

Entrevista com Marcela Rienzo

Marcela Rienzo

Você é a primeira mulher eleita para presidir a AAS e convocou a sua colega Natalia Suárez para o cargo de vice-presidenta. Por que as mulheres se destacam tanto nesse ofício?

Somos mulheres sommeliers, cada uma tem a sua trajetória profissional no mundo do vinho. Temos personalidades diferentes e isso é interessante, porque nos enriquece. Além disso, temos em nossa Comissão Diretiva Andrea Donadío, Valeria Gamper e Paz Levinson, entre outros  profissionais de muito prestígio, como Maco Lucioni e Pablo Colina. Sinto que tenho a “Scaloneta*” completa (risos)

Mas é verdade, tem muitas mulheres importantes nesta profissão e na indústria em geral. Elas foram as fundadoras da primeira escola de sommeliers (EAS); e dos 9 campeonatos argentinos, 8 foram vencidos por mulheres. Além disso, no mundo, as profissionais argentinas estão representando o nosso país maravilhosamente, como Paz Levinson na França e Valéria Gamper na Espanha, entre outras, o que reivindica o lugar de sensibilidade e de trabalho das sommeliers argentinas.

Como vai ser a sua gestão?

Eu gosto de pensar que a Associação é um lugar de encontro, onde nos reunimos para pensar em coletivo, que agrupa os profissionais da sommellerie de todo o país. É uma organização sem fins lucrativos que pretende acompanhar a profissionalização da sommellerie. O nosso norte é a capacitação e a excelência, e por isso trabalhamos para que os sommeliers de todo o país tenham acesso a mais e melhores fontes de conhecimento. Não somos um clube de benefícios, não vendemos nada e nem somos uma organização educativa. Trabalhamos pelo crescimento e o desenvolvimento de nossa profissão e nossos associados chegam à AAS com a ideia de fazer parte de uma grande comunidade.

Eu vou seguir os passos de Matías Prezioso e Valéria Mortara (os dirigentes da gestão anterior da AAS), com a ideia de apostar sempre mais, tentar fazer com que os sommeliers sejam mais profissionais, lutar por mais treinamento, em ter a cultura serviço no sangue. Isso é o que aprendi e minha gestão pretende ser uma devolução por todas as alegrias que esta profissão me proporciona.

Marcela Rienzo

As e os sommeliers argentinos são chave para divulgar o vinho argentino no mundo… Você considera que essa é uma estratégia a se aprofundar?

Claro, basta ver o exemplo de Paz Levinson, que é nosso orgulho, pois ela é uma embaixadora incansável do vinho argentino, carrega essa sensibilidade em seu DNA. Ela, Valeria e tantas outras colegas são pessoas que se esforçam muitíssimo, estudam permanentemente e colocam em prática o que sabem a cada dia. 

Graças a esses sommeliers e a todos os demais que se desempenham no exterior, o vinho argentino tem uma enorme oportunidade, com o apoio de outras ações importantes, como as desenvolvidas por instituições como a Wines of Argentina, por exemplo.

O que ainda falta comunicar?

Nós temos uma carta de apresentação muito importante que é o nosso Malbec, um vinho que é conquistador de paladares e de taças, reconhecido no mundo todo. Agora é o momento de começar a mostrar outras coisas e a Argentina tem muito para contar. Temos diversas vinícolas interpretando os terroirs de maneira formidável, cada vez propondo coisas mais extremas e por isso acredito que existem muitas oportunidades no horizonte.

Hoje é o Dia do Sommelier. A indústria reconhece a relevância desta profissão?

A Associação Argentina de Sommeliers é uma das mais importantes da região, venceu várias vezes como uma das organizações com melhor comunicação com seus sócios, temos uma newsletter com mais de 20 mil assinantes espalhados pelo mundo todo, não somente sommeliers argentinos. Trabalhamos intensamente em todos os sentidos, não só na comunicação, mas também em capacitações e formação. A indústria nos reconhece, considera os sommeliers como parte da engrenagem; hoje tem cada vez mais sommeliers trabalhando nas áreas comerciais das vinícolas e também como brand ambassadors.

Marcela Rienzo

Como aprofundar a cultura do vinho dentro e fora da Argentina? 

Eu acho que temos uma grande cultura de vinho. Somos um importante país produtor, temos muita qualidade em todos os segmentos de preço, temos vinho na mesa das famílias todos os dias. Logicamente, o maior volume de vinho que se consome na Argentina não é o vinho premium, apesar de que os vinhos argentinos nesta categoria crescem dentro e fora do país pela qualidade que oferecemos. Precisamos continuar aprimorando essa imagem. 

Quanto ao que nos compete na AAS, estamos em contato permanente com colegas do mundo para compartilhar novidades de como os nossos vinhos evoluem, bem como nossas regiões vitivinícolas. A nossa atividade nos oferece a possibilidade de chegar a nomes referenciais da sommellerie em todos os mercados e para isso dedicamos muita energia. 

Não apenas adoramos comunicar que somos um país produtor, mas também que temos um vínculo profundo com o vinho, já que na Argentina uma garrafa de vinho sobre a mesa tem um valor emotivo e cultural muito importante que nos conecta com a história do país e com a história de nossas famílias. Sem dúvida, isso é algo fantástico que o mundo percebe como um diferencial sobressalente.

* Apelido dado à seleção masculina argentina de futebol que venceu a Copa do Mundo de 2022.

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