Delimitar para valorizar. Essa ideia resume a essência do que está acontecendo na Argentina do vinho, onde o processo de formação de Indicações Geográficas (IG) se acelerou nos últimos tempos.
Indicações Geográficas na Argentina
Diferentemente dos países europeus, a Argentina conta com uma legislação muito simples para indicar a origem de seus vinhos. Estabelecido em uma lei sancionada em 1999, o sistema tem três categorias: Indicação de Procedência (IP), Indicação Geográfica (IG) e Denominação de Origem Controlada (DOC). As IG são um passo necessário para as DOC, coração do sistema no Velho Mundo.
Desde os anos 2000 a lista de Indicações Geográficas chegou a 101 origens aprovadas, ainda com várias zonas que esperam o aval definitivo. Houve uma primeira onda destinada a proteger os toponímicos importantes em uso, como Mendoza, Valle de Uco, Famatina e Valles Calchaquíes, por exemplo, e depois outra orientada a construir áreas vitícolas. O paradigma é Paraje Altamira (aprovada em 2016), sobre a qual, depois, outras foram geradas. Estas últimas têm uma importância diferente e são as que mais mantêm os winemakers e viticultores ocupados. Eles trabalham para descrever cada terroir e sua incidência no sabor do vinho, para delimitá-las da maneira mais objetiva possível.
¿Cómo funciona el sistema de denominaciones en el vino argentino?
Nesse contexto, vamos lembrar quais são as cinco Indicações Geográficas mais recentes para o vinho argentino.
Quebrada de Humahuaca, província de Jujuy – 2015
Considerado Patrimônio da Humanidade pela Unesco, este vale do noroeste argentino também é uma região vitivinícola. Lá, um pequeno grupo de produtores impulsiona a atividade vinícola entre 2.200 e 3,330 metros de altitude, em um hábitat ensolarado e árido. Mas é preciso destacar a amplitude térmica, que pode chegar a 20 graus.
Ao longo de 80 quilômetros, a superfície de vinhedos ainda não chega a 30 hectares, mas o caráter de seus vinhos já chama atenção dos especialistas. Entre as cepas utilizadas se destacam os resultados com Malbec, Tannat e Syrah, enquanto a branca mais utilizada é a Sauvignon Blanc.
Los Chacayes (Valle de Uco), província de Mendoza – 2017
Com uma superfície total de 102.500 hectares ao pé da Cordilheira Frontal, esta IG, impulsionada pela bodega Piedra Negra, do francês Francoise Lurton, fez parte da IG Vista Flores.
Apesar da sua grande superfície e de se estender até o limite internacional com o Chile, só 1.600 hectares estão cobertos por vinhedos entre 1.000 e 1.350 metros de altitude. Os solos são seu principal diferencial e há os de perfil franco-arenosos e rochosos e os argilo-limosos, com grande proporção de cascalho e pedras tipo bola, recobertas por carbonato de cálcio.
É uma região que se destaca por seus vinhos tintos de Malbec, Cabernet Sauvignon e Cabernet Franc, enquanto a curiosidade são os vinhedos com cepas mediterrâneas como Roussanne, Marsanne, Viognier, Grenache, Syrah e Mourvedre.
Pampa El Cepillo, (Valle de Uco), província de Mendoza – 2019
É uma região bastante fria no sul do estado de San Carlos, Valle de Uco, que faz limite com a IG Paraje Altamira. Seus vinhedos chegam a 1000 metros de altitude com orientação sudeste, de modo que registram as temperaturas mínimas mais baixas da região. Para muitos é uma das áreas mais extremas e desafiantes de Mendoza.
Apesar das Bodegas Esmeralda terem sido as que impulsionaram a delimitação da região, hoje mais de vinte produtores cultivam Malbec, Cabernet Sauvignon, Cabernet Franc, Pinot Noir e uvas brancas como Chardonnay e Sauvignon Blanc. São muito apreciadas porque garantem potência com altos níveis de frescor natural.
IG San Pablo, (Valle de Uco), província de Mendoza – 2019
Esta IG, proposta pelas bodegas Salentein, Tapiz e Zuccardi, se encontra em Valle de Uco, onde o a região de Tunuyán limita com a de Tupungato. Ocupa 4.300 hectares ao pé dos montes, entre 1.175 e 1.600 metros de altitude, e se trata da área de vinhedos mais gelada de Mendoza.
Atualmente, a superfície coberta por vinhedos é de 535 hectares, onde as uvas Malbec, Cabernet Franc, Pinot Noir, Chardonnay e Sauvignon Blanc se destacam, enquanto alguns já apostam em cepas menos tradicionais como Gewurztraminer, Gruner Veltliner e Verdejo.
Trevelin (Patagônia), província de Chubut – 2020
A mais recente incorporação dos vinhos argentinos à lista de Indicações Geográficas se encontra na província de Chubut, a 43° de latitude sul sobre o cordão andino patagônico. Lá a atividade vitícola começou em 2010, mas devido às condições climáticas o desenvolvimento dos vinhedos foi lento.
Os produtores de Trevelin recorrem ao uso de aspersores de água nos vinhedos para combater as intensas frentes frias, que podem passar de vinte por ano. A diferença do resto do país, o cultivo nesta zona é de sequeiro já que o regime de precipitações é de 1000 milímetros anuais.
No momento só existem uns 12 hectares e três bodegas (Casa Yagüe, Nanty Falls e Contracorriente) que apostam nos vinhos brancos de Chardonnay, Sauvignon Blanc, Riesling e Gewurstraminer, enquanto nos tintos só o Pinot Noir deu bons resultados. Sem dúvidas, os espumantes completarão a proposta e as expectativas são animadoras.