Hello, winelover! Estamos em época de vindima e Mendoza é uma festa. Vivemos com plenitude o tempo de colheita, que também é a fase mais agitada e estimulante nas bodegas e nos vinhedos neste canto do mundo.
É o momento de colher os frutos de um ano inteiro de esforço, e os caminhões carregados de uvas vão e vêm pelas estradas mendocinas. Sim, as uvas que depois vão se transformar no conteúdo de muitas taças e brindes ao redor do mundo. Sente-se no ar a esperança, a gratidão e a expectativa de um novo começo, que coincide com o final do verão.
Também é a alta temporada de eventos para a indústria, e como já estou há mais de um ano mergulhada nesse universo, tive o privilégio de poder participar de vários.
Em um destes encontros conheci a Estela Perinetti, uma engenheira-agrônoma mendocina com uma trajetória na viticultura que é um luxo: ela foi a enóloga principal da Escorihuela Gascón, trabalhou na Catena Zapata e alguns anos depois foi a responsável pela Luca e pela La Posta de Laura Catena, isso apenas para citar alguns estabelecimentos.
A Estela também é consultora e desenvolvedora vitivinícola, e em 2019 fundou a sua própria empresa, a “Las Estelas Wines”, com base numa finca familiar de Tupungato. Resumindo: é uma mulher do mundo dos vinhos com todas as letras!
Seu nome é associado à bebida nacional argentina porque, além de ter trilhado semelhante carreira, em 2015 ela convocou, junto com outras colegas, um grupo de mulheres com postos de decisão em diferentes empresas para visibilizar suas tarefas e ao mesmo tempo gerar um ambiente de colaboração permanente.
Assim, trabalhando com a sommelier María Laura Ortiz, fundou o Clube de Mulheres Profissionais do Vinho, uma associação sem fins lucrativos. A iniciativa começou com 15 integrantes e hoje já reúne 135 membros de todo o país, além de argentinas que vivem e trabalham no exterior.
Por isso, no mês em que se celebra o Dia Internacional da Mulher, compartilho com vocês os highlights da nossa conversa. Com a Estela Perinetti, os assuntos são inesgotáveis e, a partir de sua experiência, pude confirmar que tudo que tem a ver com o vinho — da produção ao consumo –, definitivamente SIM é coisa de mulheres.
Estela Perinetti: ver para crer
Esse foi o disparador. Ou, melhor dizendo, o motor para que as mulheres sejam vistas na atividade com tudo o que têm para dar. “A ideia do Clube surgiu porque muitas mulheres em seus postos de trabalho não tinham a mesma visibilidade — nos meios de comunicação, por exemplo — que os homens, e isso se traduzia em menos oportunidades”, conta Estela.
Assim, a decisão de nos unir foi 100% em resposta a uma necessidade endógena. E se bem ela reconhece que esta iniciativa possa ter contribuído com um grãozinho de areia para que a situação das mulheres melhore — é um fato que hoje existem mais postos femininos de alto nível nesta indústria — ainda não há uma equiparação.
“Nas universidades hoje a mesma quantidade de homens e mulheres se forma, mas em cargos de alta hierarquia só representamos entre 12 e 15%”, pontua Estela Perinetti. Aparecer na imprensa especializada, tanto local como internacional, e fazer-se conhecer no mundo empresarial foi uma das maiores contribuições do Clube para que a mulher ganhe agora uma maior relevância na indústria do vinho, comparado ao que se via há dez anos.
Um projeto em expansāo constante
As primeiras atividades do Clube foram uma degustação técnica com vinhos de terroir e um jantar. Funcionaram. Depois vieram outras degustações e jantares, palestras com as especialistas do grupo e eventos para a imprensa. Hoje, já com um perfil no Facebook e conta no Instagram, elas mantêm a essência e os objetivos do início, e um dos desafios foi adaptar seus encontros para cada vez mais membros.
“Se bem nós, mulheres, ganhamos espaço, ainda resta muito por fazer para que haja equidade no mundo do vinho. Nesse sentido, a Argentina é um país que está alguns passos à frente e é preciso aproveitar essa vantagem”, reflete Estela Perinetti. A especialista incentiva as garotas mais jovens a entrar na atividade, caso sintam que é a sua vocação: “É um trabalho duro, com muito risco, mas criativo, divertido e com projeção internacional”, encoraja.
É verdade, ainda tem muito a ser feito, mas mulheres como a Estela e suas colegas do Clube inspiram, abrem caminhos e levantam a voz para que o talento, o esforço e a dedicação feminina tenham cada vez maior reconhecimento. Vamos em frente! Até a próxima rolha!
