Enologia e mulheres: 60% da área é dominada pelas mulheres na Argentina

enologia e mulheres

Enologia e mulheres. Com uma crescente participação das empresas vitivinícolas de todo o país, Amfori, Bodegas de Argentina (BdA) e Wines of Argentina (WofA) apresentaram o segundo estudo de perspectiva de gênero, realizado pela Consultora Perspectiva, que revelou um resultado surpreendente a respeito da intersecção entre a enologia e as mulheres: 60% da área de enologia é dominada pela presença feminina. Você pode ler a pesquisa aqui. Também dá para ver a apresentação aqui.

O relatório “Perspectiva de gênero no setor vitivinícola” contou com a participação de 58 vinícolas de Mendoza, Salta, Córdoba, San Juan, La Rioja, Buenos Aires, Tucumán e Neuquén, buscando refletir sobre a enologia e mulheres e o mercado de trabalho de homens e mulheres que se desempenham em distintos ofícios na indústria.

Enologia e mulheres: a divisão do trabalho

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A pesquisa analisou o tamanho e a localização geográfica das vinícolas participantes; distribuição de homens e mulheres na estrutura laboral; composição do organograma segundo o gênero; divisões por nível educativo e políticas de gênero nas empresas. Os dados obtidos revelam a ainda vigente desigualdade presente na indústria do vinho, com uma notória brecha com relação à equidade (de cada 10 pessoas que trabalham na vitivinicultura, 3 são mulheres e 7 são homens). Porém, um dos dados mais relevantes do estudo é que, numa área chave como é a enologia, há predomínio feminino.

De um total de 15 áreas, sete estão masculinizadas, cinco são paritárias e quatro são predominantemente femininas. As áreas com maior participação feminina são: enologia, recursos humanos, turismo/hotelaria/gastronomia, com 63%, e pessoal de limpeza, com 71%.

Sobre este vínculo notável entre a enologia e as mulheres, Débora Robledo, socióloga da Consultora Perspectiva, indica: “O dado nos levou a buscar uma pesquisa realizada pela Universidade Nacional de Cuyo, que revela que, em geral, em todas as carreiras universitárias, as mulheres são maioria entre os formados. A enologia não é exceção”.

Enologia e mulheres: as razões deste vínculo

Outro dos motivos que podem explicar esta mudança nos resultados (na pesquisa de 2022, a relação entre a enologia e as mulheres era distinta: era ainda uma área masculinizada) é que, segundo Robledo, após a pandemia, muitas vinícolas implementaram o trabalho híbrido, permitindo mais flexibilidade de horários, o que pode ter estimulado a incorporação de mulheres.

Seja como for, esclarece que a metodologia do estudo não lhes permite atualmente especificar quais são as condições profissionais, papéis e hierarquias destas mulheres enólogas. A pesquisa também reflete a segregação vertical na estrutura ocupacional, com uma sub-representação de mulheres em posições de liderança, direção ou tomada de decisões, o que é conhecido como o fenômeno “teto de cristal”.

Magdalena Pesce, gerente geral da Wines of Argentina, demonstra estar de acordo com as conclusões das especialistas da Consultora Perspectivas. “Nos surpreendeu, mas ao mesmo tempo nos parece lógico, porque há vários anos vem ocorrendo o fenômeno de que é maior a quantidade de mulheres se formando em Enologia”, diz. No entanto, destaca que este grande avanço nos resultados quanto à relação entre enologia e mulheres não deve diminuir os esforços da indústria para alcançar uma maior visibilidade e inclusão da mulher nas áreas masculinizadas. “Apesar da notável mudança que ocorreu de um ano ao outro, não temos que cair no erro de achar que é um problema a menos na indústria. Essa não é a mensagem. Precisamos de mais dados que nos permitam cruzar a maior quantidade possível de variáveis”.

Também, explica que é preciso ampliar o olhar sobre o papel da mulher enóloga: “Algo que ainda temos pendente para o próximo ano é saber que papéis essas mulheres ocupam dentro das equipes de enologia. Esses são os dados que precisamos ter para fazer uma análise completa”.

Jimena Sánchez, representante da Rede Amfori para a América Latina, mostra cautela sobre a análise dos dados, e destaca que é importante destacar a maior visibilidade que a mulher conquista na indústria. Afirma, também, que na organização há tempos aplicam um enfoque de perspectiva de gênero em suas auditorias, inclusive nas cadeias de fornecimento, uma demanda de seus próprios sócios, principalmente os dos países nórdicos.

“Aos nossos sócios lhes interessa não só comprar um produto de boa qualidade ou bom preço que seja cuidadoso com os direitos humanos e o meio ambiente, mas também está se instalando a perspectiva de gênero. Não querem cadeias de fornecimento ou provedores onde profundas desigualdades se façam presente”.

Muito por trabalhar

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Milton Kuret, diretor executivo da BdA, afirma que é positivo que “apareçam equipes mistas porque trazem uma visão diferente”. Também salienta a utilidade do Protocolo de Sustentabilidade de Vinícolas da Argentina para melhorar as políticas de gênero na indústria. “Temos um elemento importante que, se você observa como está escrito, desenvolvido e valorizado em cada ponto, se torna uma ferramenta de gestão para aqueles que se certificam”, sustenta.

“O Capítulo 12, particularmente, valoriza o recurso humano a partir de visões diversas, desde a sua incorporação, seu esquema de remuneração, sua qualificação e valorização dentro da empresa. Definitivamente, valoriza e considera a inclusão”, completa.

Além dos resultados, na indústria entendem que é necessário continuar realizando ações de maneira permanente. Neste sentido, Magdalena Pesce comenta que na WofA, além de desenvolver programas como Women Of Argentina, com o objetivo de alcançar uma cultura igualitária, sustentável e inclusiva no mundo do vinho, ou aplicar a perspectiva de gênero em todas as ações que a entidade propõe, a Lei Micaela tem sido uma capacitação relevante dentro da vitivinicultura.

Até o momento, foram 30 as vinícolas de todas as províncias capacitadas sobre a lei e, casualmente, o mesmo número de estabelecimentos que entrou este ano na pesquisa. “Na WofA adotamos um novo ano de treinamentos na Lei Micaela junto ao Governo de Mendoza. Foi algo que contribuiu para uma maior quantidade de vinícolas de todo o país respondendo a pesquisa”, destaca Magdalena Pesce. E conclui: “O milhão de euros que obtivemos da União Europeia para investir na Sustenta Vitis, nosso programa integral de sustentabilidade, é graças a estas políticas que a WofA tem implementado”.

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