No dia 27 de julho se celebra o Dia do Syrah, uma uva tinta cuja origem se remete à antiga cidade de Shiraz, na Pérsia (atualmente Irã). Introduzida na França pelos romanos, esta variedade encontrou o seu terroir ideal no Vale do Ródano, de onde se expandiu para regiões vitícolas da Espanha, da Itália, de Portugal, da Austrália, dos Estados Unidos e da Argentina.
Logicamente, nos referimos à uva Syrah e vale lembrar que foi na Austrália onde decidiram rebatizá-la para marcar as diferenças estilísticas desenvolvidas no Novo Mundo. Os franceses comemoram o seu dia em 16 de fevereiro.
Para compreender a variedade de estilos, o sommelier José Iuliano, com experiência em restaurantes como Mirazur e Chila, explica: “Distinguem-se dois estilos bem definidos de syrah: o do Vale do Ródano, na França, especialmente no vale setentrional, uma região fria perto da cidade de Lyon. Lá os vinhos são elegantes e equilibrados, com três denominações: Cote-Rotie, Hermitage e Cornas. Elaborado como varietal, em geral acompanhado com um pouquinho de viognier. E no Ródano sul, que desemboca no Mediterrâneo, é parte dos blends conhecidos com a sigla GSM: Grenache, Syrah e Mourvedre.
O outro estilo é o australiano, onde há grandes vinhos. Nessa região os syrah possuem mais álcool e caráter, além de serem muito expressivos, tanto para o olfato como para o paladar. Bem diferentes do Ródano. E o syrah argentino sempre esteve mais associado ao australiano devido aos terroir ensolarados, mas hoje existem exemplares onde se nota a inspiração europeia e os resultados entusiasmam muito os seus fãs”.
Dia do Syrah: os números hoje
Segundo o Instituto Nacional de Vitivinicultura, a Argentina registra 11.108 hectares de syrah cultivados, o que representa 5,4% do total de variedades do país, distribuídos da seguinte forma: 8.085 hectares em Mendoza, 2.091 em San Juan e os demais 931 no restante das províncias.
Inclusive, os vinhos de Syrah sempre tiveram fãs e nos últimos anos observa-se uma recuperação do interesse por esta cepa, especialmente no mercado interno. Os que a apreciam destacam o seu perfil aromático de pimenta-do-reino, notas defumadas e cárnicas.
Sabendo disso, os produtores argentinos tentam tirar proveito dos matizes que a altura agrega, especialmente nos climas mais frios, já que ficou demonstrado que se trata de uma variedade versátil e adaptável a muitas zonas.
Os perfis de uma uva emblemática
O Dia do Syrah é a desculpa ideal para aprofundar conhecimentos com os seus especialistas. German Buk, enólogo da Finca Las Moras, elabora alguns dos Syrah mais interessantes do país, com uvas dos vales sanjuaninos e destaca “seus distintos perfis aromáticos em função do clima, oferecendo aromas florais, frutados e de pimenta-do-reino ou mesmo de frutas pretas, notas defumadas e torradas. Nas zonas mais frescas, os taninos podem ser suaves e presentes, enquanto nas zonas mais quentes se tornam sedosos e entregam um grande volume. Sua estrutura polifenólica pode dar origem a vinhos estruturados que permitem um excelente envelhecimento em garrafa ao longo dos anos”.
Pela diversidade de climas e solos da Argentina, é possível produzir estilos muito interessantes de Syrah, também garante Juliana Rouek, da Elefante Wines: “Pedernal é um lugar frio, com sol e solos pedregosos e restritivos, com muito calcário. É um combo ótimo para fazer coisas espetaculares e diferenciais. Frescas, com capacidade de envelhecimento, mas sobretudo com o DNA de Pedernal, que sempre inclui ervas (orégano, tomilho) e larrea, além do tradicional lado especiado”.
De Calingasta, no Vale de San Juan, localizado a 1.600 metros de altitude, Andrés Biscaisaque, da Finca Los Dragones, é outro produtor entusiasmado pelo Syrah, e afirma: “Aqui surpreende pela sua frescura, mineralidade e expressão floral quando é colhido cedo, resultando em vinhos puros, com energia e tipicidade. Dizem que é uma cepa difícil de vender, mas nós conseguimos encontrar o nosso lugar ao sol com o nosso e ainda queremos muito mais”.
A alma do terroir
Nos anos 90 a Finca La Anita foi pioneira em vinificar um syrah de primeira qualidade em Mendoza e a sua enóloga, Denis Vicino, detalha as características do syrah de Agrelo (Luján de Cuyo): “Obtemos frutos que permitem elaborar um tinto carnoso e robusto, grato no nariz e na boca com notas de cassis, amoras frescas e especiarias, sustentado por uma vibrante e refrescante acidez. Sua grande versatilidade o transforma em uma excelente alternativa para beber sozinho ou para acompanhar carnes bem temperadas, massas, risotos à base de cogumelos e carnes de caça.
Em Mendoza é possível elaborar vinhos syrah muito elegantes, preferivelmente nas regiões mais frias, cuidando do equilíbrio e da concentração, para que a variedade expresse melhor o seu grande potencial”.
Nesse sentido, hoje tem quem aposte no Valle de Uco para elaborar Syrah fresco e tenso, enquanto em Maipú, região quente e clássica da vitivinicultura mendocina, se busca recuperar o potencial de certos vinhedos históricos desta uva, como acontece em Barrancas e Cruz de Piedra.
Sucesso garantido
Mythic Cellars é uma vinícola que conquistou o reconhecimento a partir de seu Mythic Block Syrah. Claudia Piedrahita, diretora da vinícola, conta: “Em Perdriel (Luján de Cuyo) temos um quartel de syrah com características excelentes e nos pareceu uma boa oportunidade para fazer um vinho muito cuidado e de alta qualidade com este varietal que representa um pequeno ato de rebeldia dentro do panorama argentino”.
Na hora de falar de rótulos, Iuliano compartilha os seus favoritos: “Assim como o malbec, o syrah é um grande veículo para expressar o terroir. Nesse sentido, na Argentina, de norte a sul, têm três rótulos que na minha opinião o destacam bem: Sikuri (Maimará, Jujuy), Mero Primo (La Consulta, Valle de Uco) e Fin Del Mundo Single Vineyard (San Patricio del Chañar, Neuquén)”.
Agora, para demonstrar que a Shiraz tem um grande potencial na Argentina deve-se incluir o Pascual Toso Alta Reserve Syrah, vinho produzido em Maipú que se destacou na competição francesa Syrah Du Monde e, de um vinhedo próximo, o Benegas Estate Single Vineyard Syrah.
Entre os Syrah mais referenciais do Valle de Uco se encontram La Cayetana, Numina das Bodegas Salentein, Animal Organic Syrah, Luca Laborde Double Select Syrah, Iscay Syrah Viognier de Trapiche e Corazón del Sol Syrah.
Já em San Juan, província onde existe uma grande aposta por esta uva, alguns Syrah essenciais são Finca Las Moras Gran Syrah, Memoria de Elefante, da Elefante Wines, e Pyros Appellation do Valle de Pedernal; o curioso Finca Los Dragones, elaborado no Valle de Calingasta, e o inovador Cansao Reserva, do Valle del Zonda. Por último, os que se sobressaem na cena dos Valles Calchaquíes são o Laborum Syrah, da Porvenir, de Cafayate, e o Bad Brothers, do winemaker Agustín Lanús.