Olá, winelover! Até que enfim as temperaturas baixaram no hemisfério sul e passou a efervescência da vindima. Chegou o momento de canalizar o processo de aprendizagem constante em que vivo desde que cheguei na Argentina e decantar em silêncio o movimento de todas as viagens dos últimos meses.
Guiada pela introspecção provocada pelos dias mais curtos, e também porque gosto de repassar o que vou aprendendo, quero compartilhar algumas curiosidades do Malbec que me chamaram muito a atenção.
No mês em que celebramos o Malbec, vou falar sobre alguns dados sobre a cepa mais representativa da Argentina que com certeza vão surpreender você.
Curiosidades do Malbec
- Profeta longe de casa. Às vezes, as figuras mais talentosas precisam escrever suas histórias em terras alheias. Um exemplo bem popular dessa máxima na Argentina é o Lionel Messi. O principal jogador de futebol do mundo teve que brilhar na Europa antes de alcançar a sua máxima conquista com a camiseta da seleção argentina. Nesse quesito, podemos dizer que o famoso esportista tem algo em comum com o Malbec, uma cepa que todos reconhecem como argentina, mas cuja origem é Cahors, região vitivinícola do sudoeste francês. Lá, no século XIV, foi tal o boom de seu comércio com a Inglaterra que essa cidade se transformou em um bastião cultural. Exatamente a mesma coisa que acontece agora com Mendoza, onde o Malbec é um polo de experiências culturais, turísticas e gastronômicas que o mundo celebra como cada drible da “Pulga”.
- Rainhas e czares, todos amavam o Malbec. Como eu estava contando, o Malbec é oriundo de Cahors, na França, onde no século XII Leonor de Aquitânia era uma figura chave e muito poderosa. Em 1152, ela se casou com Henrique, O Jovem, que seria o futuro rei da Inglaterra. A partir desta união, a rainha consorte se ocuparia de fortalecer as relações comerciais entre Cahors e a coroa britânica, e assim o Malbec se transformou no vinho mais bebido pelos nobres da ilha.
Logo o rei Henrique III se fascinaria com tais garrafas e as batizaria como “os vinhos negros de Cahors”. Esta proximidade com a nobreza britânica levaria o Malbec até os domínios do czar Pedro, O Grande, cuja filha, Catarina, promoveria a sua produção na Crimeia, onde ainda é cultivado aos pés do Mar Negro. - O papel de Napoleão III. O viticultor Miguel Amado Pouget, responsável pela chegada do Malbec na Argentina durante a segunda metade do século XIX, foi um exilado político que tinha abandonado a França depois do golpe de estado de Napoleão III, em 1851. Por aqui costumam dizer: “há males que vêm para o bem” e, com este exemplo, acho que aprendi a usar essa frase com perfeição.
- O tropeço que não foi uma queda. Em meados do século XX, o Malbec ocupava cerca de 50 mil hectares naArgentina, apesar de que nos anos 80 e 90 seu protagonismo foi decrescente. Em torno de 1997, quando os viticultores e donos de vinícolas argentinos começaram a apostar no seu potencial, só existiam aproximadamente 10 mil hectares cultivados com plantas desta cepa. Foi só a partir de 2002 que o Malbec consolidou a sua escalada exportadora, potenciando-se também com o sucesso no território argentino, até atingir os seus 44.387 hectares atuais.
- Existe um “Dia do Malbec”. Desde 2010, em 17 de abril se comemora o Malbec World Day (MWD), uma iniciativa global criada pela Wines of Argentina que busca promover o Malbec argentino no mundo e celebrar o sucesso da indústria vitivinícola nacional. Festejado pela primeira vez em 17 de abril de 2011, o MWD conseguiu se posicionar como um acontecimento histórico na divulgação do vinho em todo o planeta e hoje faz parte do calendário de festejos de alcance internacional e também local. A cada ano, a Wines of Argentina desenvolve campanhas inovadoras e prevê uma agenda nutrida de atividades nos principais mercados do vinho, que se somam aos eventos organizados pelas representações argentinas no exterior e iniciativas independentes que visam posicionar o Malbec no centro dos brindes, tanto a nível internacional como local. Pode prestar atenção, bem perto de você pode ser que haja algum evento temático relacionado ao Malbec.
Ainda com a minha taça na mão, continuo pensando neste meu presente perfeito e fico maravilhada em recordar a história que remonta há séculos. Ao mesmo tempo, lembro de uma frase que costumo escutar sempre nas vinícolas que visito: “A história do Malbec está apenas começando”.
E é verdade. Os viticultores de hoje continuam a escrevê-la, e ainda tem muito futuro pela frente.
Agora é a sua vez. Conte para mim com que garrafa desta uva tão perfeita você vai celebrar o Dia do Malbec, e o que achou das curiosidades do Malbec que comentei aqui. Até o próximo brinde!