Diego Lijavetzky e uma pesquisa que decifra o genoma da Malbec por completo

Diego Lijavetzky

Entrevista com Diego Lijavetzky. Diego Lijavetzky é engenheiro agrônomo, doutor em ciências biológicas, pesquisador do Conicet e diretor do Grupo de Genética e Genômica de Videiras (Genovid), do Instituto de Biologia Agrícola de Mendoza (IBAM-CONICET-UNCUYO), é o responsável por esta pesquisa que decifra o genoma do Malbec. 

Vinho e ciência: o que elas têm em comum? Muito, porque as vinícolas recorrem cada vez mais às pesquisas e aos trabalhos científicos para melhorar a qualidade dos vinhos que produzem. Com contribuições que incluem desde análises do clima e do solo dos vinhedos até a genética das videiras, há vários anos a ciência serve o seu conhecimento à indústria do vinho. 

Na Argentina, esta investigação é um dos últimos e mais relevantes estudos apresentados e foi desenvolvida pelo Diego Lijavetzky através de um consórcio público-privado entre especialistas do Conicet com a colaboração de instituições da Argentina, Espanha e Alemanha, que conseguiu decifrar o genoma do Malbec por completo, nada menos que a cepa mais emblemática do país. O paper científico foi publicado na revista especializada Horticulture Research.

Entrevistamos o pesquisador DiegoLijavetzky para saber mais sobre este marco científico.

Entrevista com Diego Lijavetzky 

Diego Lijavetzky

Como surgiu a ideia de fazer uma investigação para descobrir o genoma completo do Malbec? Tiveram alguma surpresa durante a composição do trabalho? 

Como ocorreu em outros países, o nosso grupo se focalizou na Malbec porque é a variedade da viticultura argentina por excelência. A ideia principal do projeto de pesquisa foi conhecer o genoma, estudá-lo e, se for o caso, poder modificá-lo a partir de tê-lo decifrado.

Adicionalmente, quando começamos as atividades do nosso grupo em 2010, existia um mito em certos ambientes da viticultura de que a uva Malbec era diferente da Cot, que é o nome original da variedade e com o qual é conhecido em sua região de origem na França. Previamente à finalização da sequenciação do genoma, desenvolvemos pesquisas que publicamos em 2021 onde demonstramos, a partir da análise de mais de 250 genótipos, que Malbec e Cot são a mesma uva.

Quantas pessoas e instituições participaram do trabalho?
Pelo menos 15 pessoas de seis instituições públicas e privadas da Argentina, da Espanha e da Alemanha: Instituto de Biologia Agrícola de Mendoza (IBAM, CONICET-UNCuyo); Faculdade de Ciências Agrárias (FCA-UNCuyo); Instituto Nacional de Tecnologia Agropecuária (INTA-Mendoza); Viveiro Mercier Argentina(Perdriel, Mendoza); Instituto de Ciências da Videira e do Vinho (ICVV, CSIC-Unirioja, Espanha); Max Planck Institute for Biology (Tübingen, Alemanha).

Quanto tempo a pesquisa levou para ser realizada?
Começamos com a ideia em 2013, mas só em 2019 conseguimos os recursos e a infraestrutura para realizar a pesquisa. Foi um grande esforço, sobretudo no tempo de análise bioinformático. A meados de 2022 já estava quase pronto, mas demorou quase mais um ano e meio para identificar corretamente cada gene e polir os resultados. Este tipo de investigação só é possível com uma adequada articulação do financiamento e de conhecimentos científicos desenvolvidos por instituições públicas, com o apoio fundamental do setor produtivo privado.

No nosso caso, tivemos diferentes aproximações. De projetos de cooperação onde uma empresa nos facilitava um vinhedo para realizar experimentos, até o mais recente e exitoso, com o Viveiro Mercier Argentina. Com eles desenvolvemos um projeto (IBEROGEN) para estudar globalmente a variedade Malbec, a sua adaptação às mudanças climáticas e os componentes de rendimento da planta, até finalmente decifrar a sequência completa de seu genoma.

Diego Lijavetzky

Qual é a grande contribuição desta descoberta sobre o genoma completo da Malbec?
Conhecer o genoma de um organismo particular (e cada um de seus genes) é a chave para poder entendê-lo, estudá-lo e, até mesmo, modificá-lo para melhorar algum aspecto de interesse. Isto pode ser tanto para uma característica relacionada com a qualidade (aroma, cor, sabor), ou com a adaptação da planta a condições de estresse, como as mudanças climáticas. Estas técnicas de modificação ou edição gênica já estão bem desenvolvidas em muitos cultivos. É o momento de tentar fazer isso com esta espécie, coisa que já estamos em processo.

Os resultados deste estudo vão permitir o desenvolvimento de clones que apresentem um comportamento mais adaptável às mudanças climáticas?
As mudanças climáticas, e o resto dos estresses ambientais, não afetam diretamente o genoma da planta de maneira geral. Mas, com o tempo, em função de sua interação com o ambiente, a malbec e todas as variedades de videiras que se cultivam como plantas perenes, vão acumulando pequenas variantes de seu genoma (mutações).

Em alguns casos, estas variações podem conferir vantagens adaptativas à planta. Parte de nosso trabalho é, justamente, identificar estas variantes (clones) que podem ser benéficas diante de futuras condições de altas temperaturas ou escassez de água. Adicionalmente, também estamos identificando e caracterizando genótipos que apresentam variações para os componentes principais de rendimento, como a taxa de talha dos frutos.

No caso da Malbec, existe o problema de que as antigas plantas conservam enfermidades e não é fácil encontrar plantas saudáveis. Com este estudo, o cultivo poderá ser otimizado?
Da mesma maneira que nossas pesquisas permitem identificar clones com melhores capacidades produtivas ou melhor adaptação a estresses abióticos (ambientais), também estamos realizando estudos que nos permitem identificar clones com diferenças em sua tolerância a doenças. Este é um ponto de partida para otimizar a seleção de materiais de cultivo e, no futuro, modificar qualquer clone que desejemos.

Se você se interessou por esta entrevista com Diego Lijavetzky, pode ler mais a respeito aqui

Comments

No comments yet. Why don’t you start the discussion?

Deixe um comentário

O seu endereço de email não será publicado. Campos obrigatórios marcados com *