Houve um tempo em que o Chenin Blanc argentino era uma variedade sem pretensões que dominava as mesas familiares, onipresente em garrafões de 1 e 5 litros, com tampa à rosca. Mas o que um dia foi sinônimo de vinho de batalha, hoje reaparece com traje de gala.
Durante o seu auge nos anos 80, chegou a ocupar mais de 5 mil hectares. “O Chenin Blanc é uma variedade histórica para a Argentina, tradicionalmente plantada para produzir vermute. Nós a usávamos na época do meu avô”, lembra Laura Catena. E acrescenta: “Agora voltamos a utilizá-la para o Vincenzo Catena. Além disso, tinha um blend clássico de Semillón-Chenin que era muito consumido na Argentina”.
Nos anos 90, muitos vinhedos foram substituídos por cepas com mais demanda. Hoje ainda restam cerca de 1.500 hectares, 90% deles localizados em Mendoza, e cada fileira que resistiu se tornou um inesperado tesouro.
Chenin Blanc, de esquecido a desejado
Roberto de la Mota foi um dos pioneiros em reivindicar a variedade com o seu La Primera Revancha Chenin Blanc. “O importante são as seleções velhas, com cachos pequenos e asa bem marcada. Em Mendoza ainda existem esses vinhedos que, cultivados em zonas frescas ou de altitude, dão vinhos com caráter e um notável potencial de envelhecimento”, garante.
Matías Prieto, da Gen del Alma, também aposta forte. “Apesar de a principal superfície estar em zonas quentes, as uvas mantêm uma frescura impecável. São indispensáveis para muitos cortes brancos importantes”, explica. O seu JiJiJi Chenin Blanc, elaborado em Villa Seca, Tunuyán, já foi comparado com alguns expoentes da África do Sul.
É que a Argentina não está sozinha nesta tendência. No Vale do Loire, os Vouvray e Savennières reinam com sua longevidade e elegância floral. Enquanto isso, a África do Sul posicionou a Chenin como sua cepa branca emblema, com estilos que vão do frutal e guloso até o austero e mineral.

Do leste mendocino à Patagônia: rótulos para se surpreender
De Luján de Cuyo a Rio Negro, passando pelo Valle de Uco, por San Rafael e pelos oásis do Leste, os novos Chenin argentinos están desafiando os velhos preconceitos.
Com origem em Luján de Cuyo e Maipú, a Universo Paralelo propõe um estilo renovado para a histórica Bodega López, cujo Montchenot Blanco, 100% Chenin, faz parte da história da vitivinicultura argentina. Dois lançamentos mais recentes são o Weinert Chenin Blanc e o Críos Chenin Blanc Bajo Alcohol, da Susana Balbo.
O leste mendocino (Santa Rosa e Rivadavia) conta com a maior superfície e exemplares interessantes, como o Trapiche Lateral, criado em jarros, e o popular Santa Julia Chenin Dulce Natural.
Dos terroirs frescos do Valle de Uco provêm o Livvera, de Germán Masera, o Rocamadre Viñas Viejas, da Juanfa Suárez, o Polígonos del Valle de Uco Vista Flores da Sebastián Zuccardi e o Propósitos Michelini & Muffato. Todos são expoentes do team mais vanguardista, com caráter mineral, austero e vibrante.
Em San Rafael, o Chenin é parte chave da história dos vinhos brancos, apesar de que hoje são poucos os varietais que podemos encontrar. Entre eles brilham o Vía Blanca Terroir Selection, da Bodega Iaccarini, o Finca La Abeja Original e o Alfredo Roca Fincas.
Por último, Matías Riccitelli oferece duas expressões muito interessantes dos antigos vinhedos de Chenin de Rio Negro, onde elabora um vinho muito refinado para a sua linha de Old Vines From Patagônia, além do disruptivo Invader Pet-Nat.
Blends brancos que elevam o nível do jogo
O Chenin também brilha como ator coadjuvante em cortes brancos de primeiro nível. No Altar Uco Edad Antigua Blanco, compartilha o rótulo com Chardonnay e Sauvignon Blanc. No Geografia Extraordinária Blancas de Uco, da Escala Humana Wines, forma time com Semillón, Chardonnay e Sauvignon Blanc, e no Altos Las Hormigas Blanco se une com Semillón e Pedro Giménez para compor uma notável alquimia branca.
Em Agrelo, o Catena Appellation Luján de Cuyo White Clay faz um tributo ao blend Semillón-Chenin, enquanto que com antigas videiras de Maipú, Alejandro Sejanovich obtém as uvas para o Tortoka Blend de Blancas, uma composição entre Chenin-Semillón-Chardonnay. Finalmente, o Liga de Enólogos da Trapiche propõe El Regreso, um Chenin-Semillón para começar de novo.

Uma joia que não se pode perder
“O Chenin tem futuro porque é plantado em abundância na Argentina”, reflete Laura Catena. “Mas não podemos esquecer que corre o risco de ser arrancado pela falta de demanda. Tomara que o seu consumo aumente, assim as videiras velhas se preservam, já que são verdadeiras joias: geneticamente diversas e únicas para a história do mundo”.
Em tempos onde os vinhos brancos são cada vez mais escolhidos, e a diversidade é sinônimo de qualidade, o Chenin Blanc argentino tem tudo para se transformar na nova obsessão dos wine lovers, sommeliers e caçadores de raridades. Raízes profundas, futuro brilhante e uma história que – como um bom vinho – melhora com o tempo.
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